segunda-feira, novembro 27, 2006

de repente



De repente vejo
a morte patenteada
na soleira da porta

caixa de correio

recheada de visões

e alucinações

ininterruptas

sou inabalavel

mente

insubmisso

perante sonhos


sou eternamente rejeitado

na esquina da rua

para além da vida


construo barcos

com o pó de sílabas

para a inauguração

da rota experimental

do acaso


já casei com o tempo

e não peço desculpa ao vento

pelo celibato

(isso sim no papel

concebido por interesses do notário)

não deixo impressões em material nenhum

vou-me embora aconchegado no manto da palavra

e exijo um funeral no pico dorsal do vento maestro

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HO Carvalho

27.11.06

00:29

quarta-feira, novembro 22, 2006

Parabéns

Djambadon está de parabéns

e todos os seus amigos bloggers e leitores

Um ano cheio de energia e inspiração

de liberdade de opinião e de Criatividade


Djambadon agradece aos que fizeram com que este espaço seja um veículo de entretenimento e de reflexão de expressão do laivo de sentimento nacional do que nos norteia no vasto leque linguístico-cultural guineense, fazendo pairar, na linha da interacção entre gerações, o ensejo de alicerçar uma sólida pedra para a reformulação dos traços identitários da literatura do saber guineense na sua dimensão pluricêntrica.
E o tantam mandou uma manga de mantenha para todos os filhos e amigos da Guiné! Anumbara!

O Editor

domingo, novembro 19, 2006

No findji segu tudu no totoli


No findji segu tudu no totoli
no na mopi padja seku pa leteti
pa ka manhoka puntanu kaminhu
Alanu sikidu na pidi simola na porta di igresia

Staka na sumiadu na tchon pa tapada
pintchadur di lenha na fugon sin brasa...
bixa di pis na markadu ku lata di sardinha
disna di ontordia pasadu di noti na taliu
anos tudu i kornabifi buluradu na pakoti di Pam
Kasabi di baka produzidu pa alimenta mundu

Anos i kasisa ku bin kumpanha tchur di Nghala
na kada banda ku tisidu na tear no mantenha tip iar
no na ndjita ku bingala pa tchiga NTULA
kontatchur ka topi silin ku fadi sineta
ninguin pa bai fera ka ten - rekadu maina
bumbulum rodja mukur
ai manganas na nha kankra manhoti djopoti!

Mininus panha apolo bas di sombra di polon
Aboplo kamba mar di Uno sin pera Unal
Manhoka tchiga ku bon kombersa di djiresa
Santchu disi di po ku si tudu tulesa
Segus di bardadi tchuli dedu kuma kaminhu i pali
kuma na sukuru ku udju di fonti ta iabri pa iagu gustus soronda

No pupa bibo
no karga alma ku ka bibu no sintanda na baranda
kikia kuma kuiiuu
pa disgrasia gasidjanta moransa ku matansa
no distindi stera di tchur no tchora no kasabi paki anos i kasisa
si dun di un udju kuma lungha kai sol tchon purmer ka no djusia
no ruma no mbludju no pui na skina di strada te pa oki kandonga intchi
No nkunha na tapada di sol no djunpini bisinhansa
ku udju regilidu no rapada

01.05.04 02:40

segunda-feira, novembro 06, 2006

terça-feira, setembro 19, 2006

Soneto



N misti ngabau na Kriol si bu na seta
Lingu mas romantis ki n kunsi
Paki bridju di bu rostu ...sol dal teta
Djamburera di nha noti ku na nansi

Pa n falau... n mistiu dja gos ka ten
N djurmenta ba dja kuma nunka mas
Ma kil bu udju ta dan gana di tcheben
Ku ta keman nha pitu di mampatas

Na djustu di firianta korson
N gasta sola di nha bikera
Uagan djelu na pitu ason

Ku tcheru suabi di bu suris
Pa arnoba fiansa di ka disispera
Sikidu bas di pe di sibi ku nha totis

Abril 2003
Ndongle Akudeta

quarta-feira, setembro 06, 2006

A Bolama


Cingido pela sombra
Do mangueiro
Esqueci o mundo

Sentei o corpo
na relva,

olhando o mar

Um pescador
deitou
a rede
três
canoas
cortaram
o horizonte

O sol esmorecia

como soprado
pela brisa
ouvi
um merengue
Adormeci…
(e eu que sentia o pesadelo
De viver)

Carlos Semedo, Poemas

Labutare


05:38 28-01-2003

perder sono para produzir
algo de rentável é salutar
levantar cedo para ganhar o dia
(é) correr de um lado para outro em espiral

preso entre sorrisos de semáforos da via
o meu vício não tem alimento nem acalento
gritar socorro à ambulância que passa
socorro sempre em coro só um soro
rouco um suco de coco guarda as moedas

já nem sequer o tempo se nos espera
um café cheio para alçar fé creio
mereço algo que estimule esta vaidade
padeço de epidemia da assiduidade
prostração da congestão temporal

despertador frustrado coma do sino
o galo agora só canta ao vespertino
sol a esfregar calcanhar no penedo
perdeu o fery-boat do ocaso

ziguezague precipitada da maré
inverno bateu recorde positivo
vai-se ao enterrar o poeta
sem caixão nem distintivo

Adão Quadé

sexta-feira, julho 21, 2006

Obulum

OBulum um espaço de reflexão sobre a Guiné-Bissau de Nelson Constantino Lopes

Rio Geba

Um blog para consultar, indispensável para quem, como Waldir Araújo, vai ao Rio Geba em busca da inspiração.

Tempo de transformação


Sorrisos sem brilhos
Mãos esqueléticas trabalhando
sem cessar
cotins e sarjas
esburacadas sem cor
pelo desgaste
sem solvência para repor

Pés rachados e endurecidos
calos nas mãos
calos nas patas
Até espinhas e sol se resignam
Ossos forçando peles
aqui e lá também
e as costelas
quais persianas
sob cortina de carne

É a vida
É esta vida do começo
que nossos corpos retratam
Povo meu


Em tempo de transformações
o tempo esculpe em nós
o seu curso
E na terra erguida
Nas plantas e alimárias
Cicatrizes de meandros
desta vida exígua
Lamentos não curam
Labutar enquanto vida somos

Pagamos hoje
o custo dos tempos vindouros
Ó povo meu
Suor e sangue fazem pátrias
Abnegados e convictos
antecipemos o futuro
para que o presente se firme em paz

Félix Siga
Pecixe, Maio 1983

Momentos primeiros da Construção


Nestes momentos primeiros da construção
após o desbravar das matas dos horizontes
não perguntes quem são os poetas
vem comigo e repara bem

Nestes tempos pioneiros da produção
os recém-chegados e os veteranos sejam muitos
a fazer com que radis naveguem
fecundos a terra
e que as ferramentas torneiem e afinem
a engrenagem do processo

Sob estes ventos soalheiros da revolução
que as quedas não sejam definitivas
e que os desfalecimentos sejam vencidos
pela certeza da vitória que amanhecerá
nas frescuras tropicais da madrugada



José Carlos Schwartz
In Momentos primeiros da Construção

Meditação do Tchintchor


Deixa-me esculpir
o teu pensamento
nas barbatanas das brisas

tatuar no peito da lua crisa
com o colar do teu sentimento
o balbúcio das brumas de antemanhãs
colosso d’alegria perpetuar
na aldeia de esperança espreitante

O eco do teu sorriso carregando
o obolum de um palpitar crepitante
sob o qual meu coração se afogando
desvairadamente

Sede bem-aventurados
ó cortesia nupcial
de radis com chuva
torrencial

apadrinhados pela noite em cristal
na reconciliação
da terra ansiosa com o céu índigo

na meditação crucial
do tchintchor


Adão Quadé
Bissau,31.07.99

quinta-feira, julho 13, 2006

Djumna-djumna


kadakin
ku si dia di muri
mortu ka ten fin

sin djanti sin kuri
te na pikil
sin dapil

pera inda n'ri

ah ah ah...
sintadu di nkun'a
obulum ka pasanser
ma kadokil ku si dia
i ka ten pupa kikia

B.leza 09.12.01
04:14
Ndongle Akudeta

terça-feira, julho 04, 2006

África Festival 2006 - Lisboa







Um continente de Música em Lisboa
Lisboa, Jardim da Torre de Belém, de 6 a 9 de Julho 2006, 22:00h



Depois do sucesso da primeira edição, o África Festival volta a contagiar a cidade com o som quente dos ritmos africanos. Este ano são quatro dias de concertos

gratuitos, com alguns dos principais representantes das músicas de África. Com duas actuações por noite, o festival vai ter ainda uma “Tenda – Ponto de Encontro”, com workshops, ateliers, actuações e uma exposição

. Jah Fakoly
**************
Os espectáculos da primeira noite do festival – dia 6 de Julho – são de Bonga e Cheikh Lô, dois músicos com formações distintas. O artista angolano radicado em Portugal é o primeiro a subir ao palco, num concerto que recupera os primórdios da sua carreira, evocando os álbuns “Angola 72” e “Angola 74”, que fizeram de Bonga um dos percursores da World Music. Às 23h30, é a vez de Cheikh Lô subir ao palco. Nascido no Senegal, é dono de uma sonoridade que deixa perceber o seu espírito livre e aventureiro, reflexo das muitas viagens que o levaram aos mais distantes pontos do globo. Com três álbuns editados – “Ne La Thiass” (1996), “Bambay Gueej” (1999) e “Lamp Fall” (2005) - este é considerado um dos nomes mais promissores da música africana contemporânea.
No dia 7, Tcheka “transporta-nos” até Cabo-Verde. Cantor e compositor, o músico oriundo da ilha de Santiago, transpõe para a guitarra batidas que, habitualmente, são tocadas com instrumentos de percussão, fazendo parte de um movimento que deu novo fôlego à música caboverdiana.
Segue-se Oumou Sangaré, a grande diva do Mali e de África, e uma das vozes mais espantosas do mundo.
Oumou comenta sobre todos os aspectos da vida no seu país, sobretudo os problemas que as mulheres enfrentam diariamente por causa da poligamia, mas também da sensualidade do amor inexperiente, da dor do exílio, da necessidade de cultivar a terra, e da fragilidade da vida humana. Distinguida com um prémio musical pela UNESCO, Oumou Sangaré tem trabalhado nesse sentido, usando a música como forma de fazer valer os direitos sociais das mulheres no Mali e no mundo.
A terceira noite do festival, a 8 de Julho, é de Djumbai Jazz e Tiken Jah Fakoly, seguidos de after-hours.
Djumbai Jazz, criado em 1990, é composto, entre outros, pelos músicos guineenses Maio Coopé (voz), Sadjo (guitarra acústica e ritmo), Galissa (kora), e Cabum (percussão), radicados em Portugal. Liderados pelo vocalista Maio Coopé, procuram recuperar os ritmos tradicionais da sua terra natal, a Guiné-bissau, como o N’gumbé, Djambadon e Brocxa, esperando-se uma actuação vibrante, que promete contagiar o público presente.
Segue-se Tiken Jah Fakoly, figura de proa do reggae do oeste africano. Oriundo da Costa do Marfim, é conhecido pelo seu activismo político e ritmos contagiantes, que não vão deixar ninguém indiferente.
Jah Fakoly
Sábado irá prolongar-se com a “noite afro-blue”, um after-hours animado pelos DJs Johnny, Lucky e LadyGBrown, dj’s residentes do Bicaense.
O encerramento deste evento, a 9 de Julho, cabe à zimbabueana Stella Chiweshe e aos moçambicanos Eyuphuro.
Com o cognome “Ambuya Chinyakare”, que significa “avó da música tradicional”, Stella Chiweshe é a única mulher do seu país a liderar uma banda e a interpretar mbira, instrumento tradicional do povo Shona, associado à magia e proíbido no Zimbabwe antes da independência. O seu trabalho a solo qualifica-a como uma das artistas mais originais do panorama musical africano, através de uma fusão entre música popular e guitarras contemporâneas.
Zena Bacar e Issufo Manuel são as vozes que compõe os Eyuphuro e são os últimos a pisar o palco da Torre de Belém, depois de uma extensa tournée que comemorou os seus 25 anos de carreira. Acompanhados pelo cantor Ali Faque, que integrou recentemente a formação, trazem na bagagem os ritmos dançáveis do Afropop, género do qual foram percursores no seu país.



Para além dos concertos a decorrer no palco principal, o festival conta ainda com uma Tenda – Ponto de Encontro, no relvado da Torre de Belém, onde vão decorrer diversos workshops/ ateliers, actuações de música e uma exposição.

Maio Coopé
Programa
Dia 6
(Angola) Bonga
(Senegal) Cheikh
Dia 7
(Cabo-Verde) Tcheka
(Mali) Oumou Sangaré
Dia 8
(Portugal / Guiné Bissau) Djumbai Jazz
(Costa do Marfim) Tiken Jah Fakoly
Dia 9
(Zimbabwe) Stella Chiweshe
(Moçambique) Eyuphuro

quarta-feira, junho 28, 2006

CONTRIBUTO NOTÁVEL


Por: Fernando Casimiro (Didinho)
25.06.2006

Apresentação do site www.bissauinvest.com

Inácio Bintchende, um cidadão guineense radicado na Eslovénia surpreendeu-me pela positiva, com a concretização de um projecto que verdade seja dita, não é fácil de realizar de um momento para o outro devido às dificuldades na obtenção de dados estatísticos sobre a Guiné-Bissau, por forma a suportar um projecto destinado à captação e promoção do investimento estrangeiro na Guiné-Bissau.
Em finais do ano passado, Inácio Bintchende deu-me conta dos seus planos, pediu-me informações sobre questões relacionadas com o investimento na Guiné-Bissau.
Inácio Bintchende avançou com o seu projecto, criou a empresa (GBI, LDA; significa Guine-Bissau investment) na Eslovénia e abriu uma delegação em Bissau.

GUINEA-BISSAU
GBI, L.D.A. Rua Vitorino Costa 46, 1º esq. (Novagráfica) Bissau, Guina-Bissau Tel.: +245 665 68 48Tel.: +386 1 564 23 06 (EU) Cel.: +386 41 243 825 (EU) EUROPE
GBI, L.D.A.Ljubljanska cesta 12F1236 Trzin Slovenia Working hours: Monday - Friday: 9 a.m. - 2 p.m.Tel.: +386 1 564 23 06 Fax: +386 1 564 23 06Cel.: +386 41 726 564 http://www.bissauinvest.com

Numa mensagem recente que me enviou, Inácio Bintchende dá conta do seguinte:
"Já estabelecemos a empresa na Guine-Bissau (GBI, LDA; significa Guine-Bissau investment).
Já estamos a promover investimento aqui na Eslovénia e vamos começar já com os estudos no domínio da agricultura, concretamente indústria de castanha de cajú e também em relação ao sector do turismo."
Parabéns Inácio!
Uma iniciativa notável sem dúvida, que merece encorajamento!
A Guiné-Bissau precisa do CONTRIBUTO honesto e positivo de todos os seus filhos onde quer que se encontrem!
Ao Inácio Bintchende e seus parceiros os meus votos de sucessos para o projecto que, pese embora ser de âmbito empresarial privado ter tudo a dar a ganhar ao nosso país!

http://didinho.no.sapo.pt




"A vida só tem sentido se, para além de nós, outros também puderem viver..."
Fernando Casimiro (Didinho)


http://didinho.no.sapo.pt

http://guinebissau.no.sapo.pt

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segunda-feira, junho 19, 2006

Kudadi na kasa-garandi


Kurpu ndjitadu na tagua
djalidjali na tchikini tina
bas… bas…

sintidu ngarba ku kurpu di fitu
kudadi i na bambaran
ku na podrisi

Homi di kasa na tchalasia na kasadia
kuma gustu di kerensa
i mudju di kasa-dus

Na kasa-garandi
kuntangu
i kumpadri di dona-kasa

dinheru di fera i sigridu na kaneka di mankara
pa ngoda un-tiru na stangu di padida nobu
son mundu si soda ku pudi tustumunha

Kurpu sin sintidu
tina ndjita tadju
bas bas bas

djaldjali barsa
kudadi
di dona-kasa

Ndongle Akudeta
15.11.05

sábado, junho 17, 2006

Fala mantenha


(visão on-line do agradecimento)

From:Ndongle Akudeta Fri, 28 Nov 2003 17:36:35


Se um dia por descuido do tempo...
(nesta saga doentia de ceifar trigo
com a foice da colheita na época seca)
poesia feita foice lavro a terra —

alameda de versos

Como sou tão aéreo quando no espaço
e embalo-me ao encanto do contratempo

Se um dia — batendo a mão no peito —
abordado pela inundação ou avalanche
a chuva feita bambaram na noite iniciática de maio
enche o celeiro do meu pensar. Sou homem do campo
e com lamparam afundo estalactites e murmúrios do nevoeiro
e a cínica noite cobiçando a tapada da minha lavra

Se um dia por negligência tombar
na armadilha hostil de um vizinho
(meus olhos outrora laboratório...)
Se um dia – minha voz a entoar
no sarau dos ventos que se vão embora
quando ainda não é hora por cá fora...

Se um dia...ah!
Este meu devoto sentir patriótico
que se rima com o precipício
se se precipitar na vã direcção
povoada pelas memórias em ruínas
na busca frustrada da chave da civilização

Por eleição a selvajaria
preservando a pura sabedoria
no monocórdico hino
fúnebre que retumba

quando acordado e elevado
no altar aromático
com cheiro do carvão
fundido em cinzas

nestes recantos fatídicos
do amanhecer

liberto dentre o alvoroço
que festeja a morte — tumbas
fortuna tão cobiçado na corte!

Cânticos folclóricos em estandarte hastear
ao cume do monte onde deuses repousam
para luzir a linha viva da comunicação harmoniosa


Na hora de falar mantenhas
(sinos dobrando na capela)
estarei acordado no meio da rua
por onde passam bideiras com cabaças

de leite de vaca dormido e bem freco

ao lado da esquina onde a lua
trespassa a morna esperança
com a nata do seu olhar que lambe
os corações desfalecidos

Recusarei sim que as lágrimas
me apinhem a caixa de correio
se um dia por mero descuido baquear
na escada alva das condolências

quarta-feira, junho 07, 2006

Ode a Bissau



Bênção da Fábrica de Leite Blufo
Menção honrosa à Montagem de Nghaié
Mantenhas de Brá, Elias, Obras Públicas

Que novas do MIG21!
Pára-quedistas em acção nas Las Palmeras
Torre do controlo de Bissalanca.... sentinela na portão da Base Aérea
Ah Jagudi real aterrando de bico na pista da aviação !

Soares da Costa, Somec-tem-tudo
Minas de pedra do Rebentamento rumo a Cais de Pindjiguiti
Tractores a romper estradas nas florestas.....
Andorinhas rebocando ninhos no chaminé
Desenbargo pronto boinas pretas no assalto final
Ah, parafusos, correias, válvulas e cilindros do Volvo!
Coburnel Campo de manas, bolas super-telé, Granja Suinave
Ó Manel-iago Alambiques Cana de açucar aguardentes

Ufa...! holofotes no centro da cidade!
Lino Correia no Festival de Mandjuandade
em harmonia com o Estádio 24 de Setembro
na transmissão directa da Taça Amílcar Cabral

Cegonha no central eléctrico Peré.
Apagão no Alto Bandim Sacor, cais de Pindjiquiti,
Complexo de Bolola em frenesim
Barras de gelo peneiradas nas câmaras da Semapesca

Ó motores das canoas de poilão ó carvoeiros, ó lenhadores
Eh brasas nas fornalhas de pão de milho...!
Eh lapas, panguetes nas travessas e bandejas
Ah! balaios na formatura nos becos!
Cine Rock... taberna de Zita, Pindra-pé

Xa xa xa...! Frigideira em acção
Ainda só são 5 da manhã em frente do Consulado da Mauritânia
É festa cheira-se a Natal. Sirenes em paradas
Bombeiros em acção. Bolsas de fogo
Lavrando palhotas no Reno Gã-Beafada
Ao programa do Partido em implemento.
Eis a Pátria amada. QG-Amura - 5 minutos
Plataformas a desfilarem nos hangares do Armazém do Povo...
Coktail no Pindjiguiti

Poh... poh! buzinar de barco de mercadoria
Atracando no porto. Made in Taiwan Xanghai
China Tóquio Requisições do PAM Instituto Amizade
Escola Piloto Titina Silá uih... Compota de Bolama!
Sacos de arroz arrebatados fep logo-logo
Nas longas bichas na taberna do Comité

Viva o Comércio Livre...! Ah! reforma do Arado
Geta-Bissau Welcome to Cajutown

Às Toneladas de castanhas no funeral das bolanhas...
Aos ferros velhos e sucatas da Achada
Ao Cemitério de Niva da Lada da Mini cooper
Ah! Destacamento Tchico Té! INEP! Cenfa! INEFD! Justado Veira!
Complexo escolar 14 de Novembro !

À faculdade de Direito de Bissau,
Á faculdade de medicina de Bissau
Viva a moral tradicional e a saúde dos velhos
Viva a cooperativa CUP!
Bêncão da radi, da grua e da Picareta
Socotram compadre do bissilão
Aló mar de Geba silo-diata adeus
Pontão Bissau-Bafatá Bambaia.
Luco Air Biombo Tubarão em ultrapassagem .
Farol do ilhéu. Galo da Sé Catedral Ave Maria!

Nô Pintcha imprensa nacional respirando fundo
Ntori Palan o menino dos jornais na praça Che Guevara
Engraxadores de tamancos-bico-fino na porta do café Universal

Bom dia ouvintes da Radiodifusão Nacional
Convosco na frasqueira Aladje Mandjai
Luta em Cuntum Run... tan... tan... tan...Cotó Braima.
Pampa arriba tambamor Transito na avenida,
Sinaleiro na feira de Bandim - Kabi na Fantcahamna Arroz ka tem

Maré alta pelicano na beira-mar
Refinarias com postura do tenente de Brigada
Bandeiras içadas nas torrinhas no flanco dorsal do Continente
Aló Cumeré Guinégás Dicol Estaleiro Naval
no baptismo dos barcos velhos
Sucatas em Achada, Kumeré em combustão lenta.
Casca de mancarra no convívio de socogel

Acordo constipado na cripta do rei póstumo de Bandim
No Cemitério real de Crim
Mãe-d'água a cem passos do Simão Mendes - palácio das Humanidades
recicla-se vidas em cada badalada pendular de Bombeiro
e na torre do controle Concorde a congestionar as pistas
Voos de Pombo a encurtar atlânticos

Hosana a Osvaldo Vieira
Ao piloto que enlouquecera na rota de Bissalanca
Vviva manicómio de Brá
Glória ao pensamento nacional
Em louvor à razão natural
Viva à Pátria Armada
Em defesa do brasão nacional -
Estrela negra no fundo roxo
Até manhã Poilão de Brá!
Até manhã Bissau... Anumbara!


Adão Quadé

quinta-feira, maio 11, 2006

Simplicidade


o peso da cabeça
esconde a minha simplicidade
sou um pórtico em grafite
docas estampadas de sobriedade

sobre este tronco sem remessas
saltam marujos gravitantes ao convite
amotinam-se as ondas em vaidade
as brisas tranquilizantes
corrompem tudo em luto
apelando ao silêncio gritante

a musica é assustadora ao pôr-do-sol..
as veias pervertidas comprometem
a minha extroversão
aponto o indicador sempre ao alto

bom dia - preceito da minha domação
a força nunca me traiu a vontade
ouvir a vizinhança a amaldiçoar
o meu nome indicia atentado
contra a humanidade

logro do fogo da compaixão
logo toda a cumplicidade
é abençoada ao amanhecer

fermentos dos meus bolos
coctail do desgrato
a minha esquerda é sacra
e basta um lindo sorrir
transversal da mulher me consolo:

poção mágica em redemoinho
para esconjurar o enfadonho
chave miraculosa da grande fortuna
que o dia guardara para mim

Adão Quadé
Santos, 09.07.03
04:00

quarta-feira, abril 26, 2006

Manuel da Costa* e o "Olhar de Mulher"


Por: Homem de Olveira Carvalho

Olhar de Mulher uma miscelânea de poemas sobre a mulher sobretudo africana dedicada especialmente sobre mulheres guineenses e angolanas num trabalho oficioso celado pelas mãos sublimes do guinense Manuel da Costa e do angolano Mário António Ernesto, sob chancela da editora Contra-Regra (2001).

Olhar de Mulher é uma obra para ler e deleitar-se, feita numa simbiose do útil e do agradável cuja a estrutura sequencial dos poemas é aleatório,do ponto de vista temático e dos autores que o compõem, de forma a deixar o leitor a usufruir de todosos condimentos e indumentárias que requintam o universo feminino, objecto da sedução e do amor, da adoração e da contemplação que leva o sujeito a cantar e a deixar-se encantar testemunhando a sua cumplicidade e o desafogo interior sem se deixar de exteriorizar o devaneio e o pesadelo causado pela louca sedução que a irresistível paixão tenha gravada no seu pensamento.
No poema que constituiu o títilo ao livro - "Olhar de Mulher" (MC), temos um eu poético embrenhado num lirismo perfeito em que na 1º pessoa testemunha a sua admiração, o seu respeito e conivência na efabulação do objecto precioso que é mulher - companheira amiga - medida numa balança cujos eixos declivagens oscilam enteo amor perpeito e ideal; amor físico e espritual; A beleza e a inteligência da mulher como objecto de crítica, de contemplação, companheira de luta e de vida.

Homem de Olveira Carvalho

Olhar de Mulher

Sedutor
poderoso
quando pisca e corteja
hipnotiza

Vencedor
quando irradia
faz melodia

de bem -fazer
quando energiza
diviniza

Casa sem mulher
casa não
homem sem mulher
homem vão

Dia sem mulher
dia sombrio
mundo sem mulher
mundo sem pio

Cultura sem mulher
cultura vadia
terra sem mulher
terra vazia

Olhar de mulher
olhar de emoções
entre prazeres e paixões
seduzir e convencer

Faz homem viver
regenera e cria
faz vida ser
mãe que tudo afilia

Olhar de mulher
olhar para acreditar
ver para querer
viver para amar

Manuel da Costa
Casal da Serra, 22 de Setembro de 2006



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*Manuel da Costa
(poeta, engenheiro agrónomo e oficial do Exército)

Nasceu a 6 de Maio de 1965 na Guiné-Bissau.
Em 1983 ingressou nas fileiras da JAAC( Juventude Africana Amílcar Cabral).
Trabalhou no Ministério de Informação e Telecomunicações.

Publicou poesias, prosas e contos nas revistas das Forças Armadas Portuguesas, O Voador e o Jornal do Exército. Em Agosto de 2000 encetou colaboração com o jornal Público. A partir de 1993 publicou artigos de opinião de natureza política nos jornais Nô Pintcha e Correio da Guiné-Bissau.
No mesmo ano, publicou em Bissau dois livros, um de poesia, intitulado A Nossa Mudança, e outro de contos, “A Força de Vontade”.Publicou Olhar de Mulher juntamente com Mário António Ernesto.
Terminou o Curso de Engenharia Agronómica no Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa.

sábado, abril 15, 2006

Tuada di djambadon


Boka moladu pa simola moskia-moskiadu
paki liti korta fala ku siti
gardisimenti malbensidu
rabata-rabata faimadu ba dja

kiston di fia i un negosio di mampasada
mama mainadu
kil ku djuntadu na armondadi
padasia-padasiadu garan garan

kinhon ki di povu sabodja-sobojadu aula-ula
'ma amanha falsia disna di ontordia
na djunda-djunda di aonti ku aos

na moransa di djitu-ka-tem kau kala iem
udju rabata tuada di djambadon
oredja na tchebeta mukur mukur
kinoba ku kamba boka distranha

*****

Kerensa
















Na brinkadera di "toca-foge"
n' dau bu ka tornan
alin sikidu tras di kasa
bin pa n' kudjiu - nha obu di tchoca!
mentu pa es dinoti tchuba kai
no mbala na tchikini-tchikini
asin amanha pata di ladron
ta bin sintidu na San Djon
na kaminhu ku manhoka farfari -
seja son pa n ka kai tchai

n' ta n'uliu pardeus suma
badjudesa di nha mame -
nha Koni di gan Kamara
"Os di bon mesa
na muntudo di koitadi"
-ai lisbueta na bnhale!

Amanha sin bai pista mantchadu
pa iran-segu ka bin burfan
mpina kabesa na balai
iurumbudura pul aparti
arrus limpu - bu kuku di udju
liti durmidu di baka k'n bakia
anti di bu pape mara kasamenti...

Djidji si i ten pa rii
tchia si kosau sarna
mara pitu si iardiu korson
si i mabo kabesa tofodja lens
si i ka mpatchau purtchi
si i ka melau bejan na boka
ma nha nomi ka deus nganau!

Amanha si nha obu intchi kalsa
nta mandurga ku mburta di kabás
kum di tudu koldadis di kana
wiski vodka ku kola suma mansa
pa n diklarau pa m pembiu na nha ragás

18:40 29-06-2003
Ndongle Akudeta
In Sombra di Lakakon

Kil bu djindjirba



16.05.01 - 24.06.01

kil bu djindjirba
ku ta fasin
fidi-lifanti
na nheme karus

bu kalkanhada
po di findi
i mantchadu
di patchi nha korson
na pedra di kunfentu


kil bu udju
mar di liti
ki n ta mbugudja nha siti

kontan
si n ka mersi
djamu bu tadju
nha djidiundadi
ta bai nkanta
fundu di mar


Ndongle Akudeta

quinta-feira, abril 13, 2006

Ela está triste



ela está triste
sei-o de cor


o meu coração
sabe ler o odor
de um sentimento

dilacerado
ao além do portão

e tão loucamente
então
me disse

o amor

resiste
perante um sonho


resignado!


Lisboa, 30.12.03
Adão Quadé

Uirtute


a vida é perfume sem cor
cheiro em ciúmes com o odor
construir castelo na areia da praia
é sol de pouca dura

primavera ainda não conseguiu vencer o inverno
estamos a alimentar o tubarão
na agua onde nadamos
que um dia há-de nos engolir a todos

cá por este lado há harmonia
estou on-line nesta nave do transcendente
o espaço é espaçoso para negociar a paz
vê-se nesta nave cores de todo o mundo
a bola afinal é redonda por aparência
dá ânsia de poupar aqui urnas aqui atrás
onde pausadamente o corpo se jaz

fio da alma atada em nós de bamba apodrecida
sarampo no meio da neve é adiar o esquiar
e o inverno toma textura da sua própria manta
arrepia o sol a lua acende a lanterna
vagueia na nuvem rebanho de carneiros
aquela escada equinocial ares amotinados
regressam alegremente enlutados de branco
da fúnebre missa do tempo sepultado sem campa

evocamos o requiem para o repouso dos infiéis
pois abastados os famintos - farinha do mesmo saco
cabemos todos na Arca da despersonalização
absorvida em alameda de flores ...

tenho agora uma nova atitude para com a comunidade
um recipiente onde não cabem todas as virtudes
sou rebelde não por natureza mas ante a sociedade
carrego a bandeira com cores contra tudo
até à lassitude que opera nas entranhas da juventude


3:25 20-02-2003

quarta-feira, abril 05, 2006

Indicador furtivo


o meu indicador
é furtivo e destro
como que uma faca
balanta

quando se levanta
é deveras
um bom atirador

ao alvo nunca falha
esta minha navalha
herdada de tantas batalhas

e vou ao combate
na escuridão
entrincheirada

na gruta da palavra
grávida

sem nenhuma
espingarda

na linha
da vanguarda...

e me clamam: vate!

NOMI DE KASA




Jorge Ampa*
(Guiné-Bissau)

Já que a cultura é um domínio vasto, não admira tratarmos deste tema assinalado em epígrafe. Contudo, a sua dissertação, embora feita a correr perante outros tantos problemas culturais a resolver, não seria hoje possível sem a feliz estada do prof. Dr. Hildo Honório do Couto, lingüista, por Bissau em outubro/90 no quadro da sua já tradicional deslocação à Guiné-Bissau e comunicações no mesmo país desde há uns anos.

Na Guiné-Bissau, nome di cassa (ou nome de cassa, nome de kassa, nomi di kasa, tendo um conta a ortografia ainda existente), é uma apelidação dada à criança enquanto pequena. Mas à medida que cresce, a situação evolui depois para várias direções.
a) Ou perde o nome logo após a fase de bebé: "bébé"; "bébézinho" ou "nené" (nenezinho, etc.). Portanto, o nomi di cassa (n.c.) fica na infância da pessoa.
b) Ou acompanha o miúdo nas suas andanças de menino "bulidur", "manso", etc., podendo ou não ultrapassar esta fase. Por conseguinte, em alguns casos permanece crescendo com o indivíduo, pelo que pode ultrapassar ou conhecer, sucessivamente, as seguintes faixas etárias de:
- infâcia
- adolescência
- juventude
- adulto
Enfim, sobre este capítulo, por razões de tempo, não nos é possível agora discernir minuciosamente a presente temática em termos de mais pormenores. Mas podemos avançar o seguinte:
O n.c. é usado tanto no contexto familiar como no comunitário. Porém, pode atingir um espaço cultural enorme, isto é, maior do que o anterior como espaço da criança em referência. Consoante a evolução, o n.c. pode distar muito dessa origem, atingindo a escala nacional e internacional.
O n.c. tanto pode ser derivado de um dos nomes próprios do baptismo (católico, islâmico) da pessoa, como ter certas origens, a saber:
- Temporal (por exemplo: "Média", que significa Meio-Dia), e
- Circunstancial (ou de cariz histórico, social, político e sociocultural, mágico-religioso, comportando carga de ditos populares, indicadores ou marcos culturais) de uma dada comunidade num dado momento histórico dessa mesma comunidade ou sociedade.
Por tudo o que foi dito até aqui, limitamo-nos apenas a trazer à memória alguns nomes de cassa bastante conhecidos e usados na Guiné-Bissau:

- Média, Murido, Negado, N'dingui, Bai-Fas (ou Faxi:Vai-Depressa). Abó-que-bim (tu é que vieste ou voltaste de novo, reencarnação: quando a mãe perde filhos...), Hóspri (hóspede - idem de N'dingui, Abó-que-Bim), Djédje, Djédjé ou Djódje (de Jorge, por exemplo), Du, Dudu, Didi, Pipi (de Pedro), Zé, Zézé, Zézinho, Quim, Quim-Quim, Quinzinho, Liisinho (de Luís), Tó, Toy, Tony (de Antônio), Fico (de Francisco), Chico (de Francisco), Meno (de Filomeno), Filó (de Filomena), Tuya (origem caboverdiana), Nelo (de Agnelo), Né ou Neya (de Inês), Ova (de Osvaldo), Nino, Nónó, N'cudji (eu achei: encarnação), Bim-Par-Bai (vir e pronto para partir - encarnação), Bedja (Velha), Bedjo, Nobo (Novo), Mica(s), Neco, Necas, Lalau (Ladislau), Mando (Armando), Nando (Fernando), Nanda, Nandinha (Fernanda), Manecas, Filas, Gundas, Duco, Fico, Djon, Djon-Djon, Jó, Juca-Pires, Tchom-Tchom, Feia, etc.
Mas a situação complica-se em dado momento para o indivíduo, já que é um ser eminentemente social ou "zoon politikon". É dizer, falar de nomi di cassa, em termos de reflexão, na Guiné-Bissau, tem que se falar obrigatoriamente, aliás, obviamente, de alcunhas, ou seja, nomi di toroça, (troça). Acerca deste assunto de "alcunhas" e "apelidos", ver o trabalho do Dr. Hildo Honório do Couto, "Os apelidos do Cláudio" (in: Humanidades n. 11, 1987/8, p. 65-70).
Existem, pois, na Guiné-Bissau, nomi di cassa, nomi de toroça, nomi de manjuandadi ou colegação (certos grupos restritos auto-organizados com base na faixa etária, sem discriminação de sexo). Um fenômeno curioso: embora aconteçam em menor escala, há casos de herança de nomi di toroça. Aqui é que a situação se torna complicada e embaraçosa para a pessoa alvejada: o n.t. passa automaticamente (não por via biológica, matrimonial ou baptismal, em termos oficiais ou tradicionalmente e oficialmente reconhecidos) de pai para filho ou de irmão mais velho para irmão mais novo. Esta investidura é, de facto, "violenta" psicologicamente, porquanto tenta às vezes (se não na maioria dos casos) atingir a pessoa, pois é uma investidura decidida, por um lado, da parte dos colegas de "detentor(es)" do nomi de toroça, e, por outro lado, da parte dos colegas "empossados". Na Guiné-Bissau, esses nomes ainda hoje ferem bastante a susceptibilidade dessas pessoas:
TÊM QUE SER USADOS SÓ POR COLEGAS OU AMIGOS ÍNTIMOS E EM LOCAL RESTRITO ("privadamente privado").
Esses nomes quase que assumiram conotação ou ligação histórica e eterna (carne e osso) e com essas pessoas ainda vivas no país, e em Bissau.
Mas, para ter uma idéia, eis alguns nomes de toroça de carácter genérico, bastanto abstracto e muito longe dos nomes de toroça já encarnados: Secu-Secu (Magricela), Cumprido (Alto, Comprido), Pó-Ferro (Pau-Ferro), Badjungo-Fero, Rapá-Garandi (Rapaz Grande). Há ainda os nomes indirectos e impessoais: Manga-Fulano, Estin, Dona-Cassa, Noiba-Nobu, etc.
A nossa situação e instinto de observação impelem-nos a avançar estes dados provisórios até a confirmação da estatística real, na Guiné-Bissau:
- Percentagem aproximada de nome di cassa (já agora, dando boléia ou "carona" aos nomes di toroça, mandjuandadi, etc.), a nosso ver, é de:
- Falantes de português-crioulo ................... 70%
- Falantes de crioulo .................................... 75% a 80%
- Falantes de línguas étnicas:
a) islamizadas e animistas: manjacos, mancanhas, papéis, fulas, mandingas, beafadas, etc: 50%; b) balantas ............................................. 100%
(Entre estes últimos cada nome é um nomi di cassa e é um dito ou adágio).
Resumindo e começando a conclusão (em vez de "concluindo"), pode-se afirmar que, na Guiné-Bissau, cada pessoa enquadrada neste esforço de reflexão, e talvez mesmo aquelas que ficaram fora das porcentagens, têm em média 2 ou 3 nomes. O nome oficial é quase inexpressivo, isto é, não de utilidade diária. Apenas em atos oficiais, solenes ou de "prisão perpétua" do dedo que recebe o anel ..... COITADINHO(S).
Pois é, há casos de indivíduos contendo até mais de ma dúzia de nomes.
Outro fenômeno curioso: os n.t. podem, quando manipulada a mentalidade do meio pela pessoa visada, ser transformados em nome di ronco (nome de exibição, de glória, de identidade, de afirmação social, máscula, etc., etc.). Há locais e circunstâncias que também dão nomes. Podemos encurtar ou "adquirir" (querendo ou não) nomes:
- Na escola
- Nas atividades lúdicas (desporto, natação, etc.)
- Nas atividades de lazar (comemorações, festas, etc.)
Na Guiné-Bissau existem personalidades famosas que têm n.c. Aliás, conservaram o n.c. Ou, ainda melhor, o espaço cultural, a comunidade, o(s) bairro(s) e a sociedade inteira (a nível da afirmação velada no subconsciente coletivo nacional) passou, portanto, a exigir. É taxativo!!! Senão a pessoa "perde-se". A gente não sabe.
Enfim, finalizemos o nome di cassa com algumas personalidades importantes do meu país (Guiné-Bissau) e também de outros;
Nino Vieira (João Bernardo Vieira - Presidente da República)
Thico Té (Francisco Mendes)
Ova (Osvaldo Vieira)
Abel Djassi (nome de guerra de Amílcar Cabral).
Ah! Não esqueçamos que alguns nomes têm que ser pronunciados em bloco: Victor Saúde Maria ou Victor Freire Monteiro.
___________________
*O autor é jornalista, escritor e investigador do INDE (Instituto Nacional para o Desenvolvimento da Educação).

Galissá o MESTRE DO KORA



sábado, abril 01, 2006

CONVERSA AMENA


(CONTO)

Manuel Pedro Pereira, Jr."Djombodikilin"

Era uma vez …
Era uma vez na rua Porto travou-se uma conversa amena entre a mãe e o filho.
– Bem! Será que tu pensas? – perguntou a mãe ao filho de seis aninhos.
– Claro que penso? – respondeu o filho
– Mas o que é que tu pensas? – indagou a mãe curiosa para partilhar do pensamento do filho
– Penso se amanhecerei vivo e, ou se haverá de comer – respondeu o filho sem muito meditar.

Realmente o menino pensa. Que brilhante pensamento de uma crança de seis aninhos de idade. Este é dos primitivos racciocínios do Homem e nem toda a criança assim pensa.

Na sequência do dito diálogo deprendia-se o seguinte, aliás é a vez do filho questionar a mamãe.

– Mas mãe, porque é que tu sempre me pressiones a ir à escola? Será que na escola dão a gente sacos de arroz ou dinheiro? – perguntou o filho à mãe.
– Sim, tu não sabes disso? – respondeu a mãe interrogando.
– Não. Não sei.
– Na escola te dão tudo. Saco de arroz, dinheiro, bom trabalho, mulher, carro. Mas tudo mesmo.
– Mamãe! Mas tu não andaste na escola. E, então como é que de tudo isso sabes? – interrogou o pequeno – Eu não vi ningém que da escola recebeu arroz e dinheiro – continuou ele.
– Olha se andares na escola vais ser doutor, engenheiro ou especialista. Sendo um formado vais ter um bom emprego, uma casa linda, carros, mulher amada e filhos, resumindo vais ter um boa vida.

A puéril questão como de tudo isso sabes se na escola não andaste, encheu o olhar da Dona Tite de lágrimas.

– Sim, não andei na escola. – deu uma pausa, contendo as gotas que temem a chover do céu dos olhos p’ra depois continuar. – É uma longa e dolorosa estória. Olha o meu pai andou na escola, ele fez a quarta classe colonial, foi lavrador, carpinteiro, foi uma pessoa de bem naquela altura. Através dos familiares sabiávamos que tínhamos uma conta que não se sabe-se o paradeiro no banco. Éramos quatro duas fémeas e dois machos das duas mães amigas e «kumbosas» [1]. Cada mulher um filho e uma filha.
Já muito doente o papai deixou ou indicações ou testamento que filho p’ra que familiar deve ir na «kriason» [2].
Eu calhei–me à um familiar paterno à uma tia que mandava na escola os filhos dela e meus irmãos de criação por estes terem os pais vivos e, entretanto a mim reservava os afazéres domésticos. Supliquei–a que também queria andar na escola mas em vão. Dentre outras as minhas duras e puéris tarefas quotidianas se resumiam a cozinha, a costura, e «bida» [3] para ajudar com a mão em casa. Insónias, maltratos. Primeiro a acordar começando o dia com varrer, passar pano no chão, limpar e arrumar e, último a dormir depois de estender a cama, descer a tenda e apagar os candeiros. Lembro–me de episódios tristes como por exemplo de estar de pé quando almoçavam a mestra e o marido dele quer dizer era eu o último a almoçar. Assim como de muitas vezes que se esquecia de tirar a bácia de cama em mim é vazado o chichi alí contido.
Nem o meu cão desejo ver no criação. Por isso estude, trabalhe e progrida. Tudo faço e farei p’ra o teu bem – beijou o filho na testa e demoradamente abraçou–o.

FIM

Moscovo, Quarta-Feira, 22.02.2006 13h


###

[1] Kumbosas – rivais, as mulheres de um homem
[2] Kriason – criação: educar criança alheia
[3] bida – vida, vendas; fazer bida – vender, fazer negócio


###################################

FRASE & REFLEXAO

«Bida pa bida – negócio é negócio»
Guilhermina Da Silva

Manuel Pedro Pereira, Jr.
(Djombodikilin)
Moscovo, Quarta-Feira, 25.02.2006, 20 horas

terça-feira, março 21, 2006

Djambadon di Mandurgada


Ndongle Akudeta

alma ku bai seu fala mantenha
udju mburgudja na fonti
fiu di kabelu na djugudjugu
kankuran na disi pe di polon

fala ku malgosadu fidi lifanti
na kumbu di silensiu

Poesia mbosanta po di kurpu
sintidu djunki gargadjada
di flur di tautau
djamburere salta bantaba
sai ronkanta noti badjuda

kudadi dentru di mi
na kangaluta
korson na ndunsia
djambadon

tambur na un tuku mudu
pe na tchon
silensiu na tchebeta
badju di dun di matu

lambe mborka
mandrugada na badjanta kabas
palabra torna homi dun di si naris

alma ku bai nuben bias
fala mantenha

23.01.06 16:30

Ave Primavera


A.Quadé

hoje
pela manhã
qual amanhã
que tal ontem
já não me lembro

salve primavera!

na copa
de um pinheiro seco
festejo neste beco

com a vela do sol
aniversário
de um poema

imaginário
a (re)nascer

20.03.01 02:39

A LUTA


Vasco Cabral

a luta
é a minha
primavera


sinfonia de vida
o grito estridente dos rios
a gargalhada das fontes

o cantar das pedras
e das rochas
o suor das estrelas!

a linha harmoniosa dum cisne!

Poemar*



Tony Tcheka

fui à escrita
poemar
um flirt com a poesia
uma paixão gerada em sílabas
prenhes de ternura

o corpo não cede ao fogo
resta a poesia
e sou mais eu em ti

no presságio a palavra
palavra, que lavra
em safras de ardoamor
apocalipse de corpos
em procissão de amor

no lusco-fusco do crepúsculo
me encontro
vejo o fogo
nascer do iceberg
do teu corpo-mármore

a poesia ocorre
em plasmas de amor
vem com o calor-vermelho
que invade o corpo em corpo
em cortinas de suor

e fleuma do teu corpo
libertando ternura sonegada
em suspiros de madrugada morena
que pétalas de feitiço-crioulo
acalentam em seivas de amor

*in Antologia Poética da Guiné-Bissau, Editorial Inquérito, Lisboa,1990

sexta-feira, março 17, 2006

A língua e os nomes na Guiné-Bissau *



Odete Semedo**

Na Guiné-Bissau, tal como em muitos países de África, as línguas são muitas porque os grupos étnicos são vários, possuindo cada um a sua língua. Porém, no caso específico do meu país, para além das línguas usadas por cada um dos grupos étnicos, existe uma língua franca falada por cerca de 70 por cento da população de todo o país, o crioulo de base portuguesa, e uma língua oficial utilizada na administração e no ensino, o português, dominado por cerca de 12 por cento da população guineense.

Esta realidade linguística da Guiné-Bissau vê-se logo que um bebé nasce: às vezes, mesmo antes da sua nascença, a preocupação dos pais é se será menina ou rapaz e qual o nome a dar ao futuro hóspede.

Na maioria dos grupos étnicos guineenses a preocupação ou curiosidade é maior em relação ao sexo da criança, porque, no que respeita ao nome do recém-nascido, as circunstâncias em que o bebé nascer, a relação entre os pais da criança, a relação da mãe da criança com as suas rivais – em caso dos casamentos políginos –, a relação dos pais com a comunidade, é que ditam o nome.
Por exemplo, na etnia mandinga, a uma criança desejada, muitas vezes é posto o nome de Meta «aquele(a) que é esperado(a) há muito tempo».

A criança de cuja saúde todos duvidam porque a mãe teve uma gravidez difícil, mas que no entanto nasceu de boa saúde – e se se surpreender a mãe a olhar longamente para o filho nos primeiros momentos de vida deste –, pode vir a chamar-se Ntinhina, «estou a ver, mas não acredito no que vejo».
Por vezes, há contradições entre os habitantes de uma aldeia, mas embora de cunho doméstico, muitas vezes dão origem a graves conflitos. Quando uma das pessoas envolvidas numa dessas desavenças vier a ter bebé, à criança pode chamar-se Busnassum «deixem-me em paz/parem de falar de mim”» ou ainda Midana «não leve em conta/ releve/jogue tudo para o alto», e todos estes três exemplos referem-se à etnia balanta.

Quando os pais, sobretudo o pai da criança, aspiram a que o filho venha a reinar, ou, ainda, quando os pais pertencem a uma família da linhagem nobre, ao filho pode ser posto o nome de Nassin «chefe da aldeia».
Em circunstâncias diferentes desta última, mas em que, com orgulho, os pais do recém-nascido entendem que a vinda da criança trouxe harmonia em casa e na tabanca, o nome dessa criança pode eventualmente ser Bufétar «amigo/camarada», na etnia manjaco.

Já na etnia mancanha, quando se espera um futuro melhor tanto para a criança recém-nascida como para toda a aldeia, o nome adoptado pode ser Ulilé «há-de melhorar/há-de ser bom».

E, assim por diante, os nomes acabam sendo parte da vida da comunidade e das pessoas que nela vivem. Cada membro da comunidade acaba sendo, através do seu nome, portador de mensagens das contradições, das amizades, dos desejos e das aspirações de que é feita a convivência entre as pessoas duma comunidade. Por isso, «a nossa relação com a vida, o espaço em que essa relação decorre, tudo e todos quantos, em interacção connosco, aí vivem, passam e deixam rastos, acabam por ser a nossa poesia, o nosso desabafo triste ou alegre...»

E nesse desabafo/ Silêncio falante/ Choro cantado/ Querer desconseguido/ Que mais poderá ser a língua senão um instrumento fenomenal de comunicação entre os seres humanos?

E enquanto nós comunicamos, o latim vagueia no português que se fala um pouco por todo o mundo, no crioulo da Guiné-Bissau, no crioulo de Cabo Verde, no crioulo de São Tomé e Príncipe, no papiá cristão do bairro de pescadores em Malaca, em pó pairando no eco da fala das gentes ou diluído no mar onde navegou o substrato dessas línguas e dialectos.

Cf. Língua esvoaçante, in Antologia

* Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas da Guiné-Bissau
** Escritora e investigadora do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas da Guiné-Bissau, para as áreas de Educação e Formação
2003-10-31

segunda-feira, março 13, 2006

No fundo do canto: Odete Semedo e a poesia pós-98


http://www.uc.pt/litafro/files_congresso/resumos.htm
Moema Parente Augel
(Universität Bielefeld - .Alemanha)

DISSASSUSSEGU DI GUINÉ. LITERATURA GUINEENSE EM TEMPO DE CALAMIDADE

RESUMO
A presente comunicação pretende fazer conhecer algumas das mais recentes manifestações poéticas da Guiné-Bissau, produzidas durante e logo após o conflito armado de 1998/99, como um eco dos sentimentos despertados por aquela guerra fratricida e suas consequências. Escritores como Tony Tcheka, Felix Sigá, Respício Nuno, Huco Monteiro possuem poemas inéditos de grande valor, clamando por urgente divulgação. Pretendo ressaltar sobretudo a novíssima obra de Odete da Costa Semedo, No fundo do canto“, no prelo, com publicação planejada ainda para este ano.

A percepção pessoal ou coletiva sobre calamidades ou momentos extremos de crise tem sido fruto de pesquisas as mais diversas. A literatura nascida durante ou em consequência de um conflito militar ou político, debaixo das dores e dos sofrimentos causados pela fuga ou pelo exílio, durante a vida na clandestinidade ou no estrangeiro, ou produzida sob o medo da censura e apesar do cerceamento da opinião pública é de um valor imprescindível como produto estético e também como sinal de advertência para as gerações vindouras. Na Guiné-Bissau não foram poucos os autores que no passado ou na atualidade fizeram desse tema o cerne do seu labor de escritores.

Odete da Costa Semedo, com o longo poema „No fundo do canto“, traz uma contribuição única no campo da poesia guineense, e não só. A autora reflete o clima depressivo que domina seu país, depois do conflito armado e também no momento atual. Expectativas não realizadas despertam sentimentos que deixam traços indeléveis na coletividade, seus efeitos abalam a autoconfiança e a própria identidade e representam um papel importante na relação entre literatura e experiência. A impotência face ao derramar do sangue inocente, a indignação sobre as destruições causadas pelas armas, a revolta sobre os resultados do desmoronamento do projeto nacional são tematizados em um extenso texto, estruturado em poemas curtos divididos em quatro sequências, em que o crioulo se mistura ao português e elementos da cultura multiétnica guineense emprestam uma grande plasticidade ao contexto.

O que norteia o horizonte simbólico de Odete Semedo não são fatos precisos da história de seu país; não lhe interessou a literalização dos acontecimentos reais. Trata-se bem mais de pinceladas de uma paisagem de pesadelo, uma busca de um novo território depois do dilúvio. O inconsciente, com seus pavores e delírios, envolve o político e o ético em uma produção poética sem igual, em parte lírica, em parte épica, da mais extrema dramaticidade.

Mais do que qualquer outro autor guineense, Odete Semedo trabalhou poeticamente o fenômeno da guerra e suas consequências morais e psicológicas. Entretanto, não se trata aqui de uma escatologia. Muito pelo contrário, seu „desabafo“ evidencia-se como um caminho para a superação das angústias e traumas de uma coletividade, a elaboração dos significados da realidade e um instrumento para a projeção de suas esperanças.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Consolo




tenho fome amor
dia todo passei no lodo
a pensar em ti

estou triste está calor
tenho sede de ti
não consigo dormir

passo dia em frente
do espelho sorridente
olhando para o meu rosto

recordo a chama da tua beleza
principesca
naquela novela
em que fui o monstro

ai meu pesadelo
desvelado

tenho pena
da minha mágoa

sorri
só uma gota d'água

o meu peito já vergou
as lágrimas todas
e o poço está seco

só mais um milagre
para cair a chuva

dentro deste vinagre



Adão Quadé

sábado, fevereiro 04, 2006

Kerensa Minguado




An'...kabas
te gos ta lebadu
si kontra agustu
ta lalu kaminhu

kamaradia
kada dia
na mainadu

kasamenti

mingua
na kalma di binhu

blanha
ku ta labraduba
simentadu

tchon bida risu kan
fonti seka
palmera
ku ta furaduba binhu seba

kerensa
nin si puku
pa topoti santadu

28.08.03Atrium Saldanha
Ndongle Akudeta

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

31-01-99:Crónicas de uma hecatambe adiada III





Sinais de paz?
Todos esperamos que sim, mas ninguém já consegue acreditar. Esta guerra começa a ser como aquela nossa brincadeira de criança: pôde-bem. Sabem que no final, no momento da padjigada, depois do Nhenku-Nhenku e do Tchitchori tchori iaia Ndé Kandému Ntalas (Ndulé-Ndulé), no memento da padjigada ninguém quer ficar com o mentu do outro. O grande problema desta guerra agora é Kim ku na fika ku mentu, porque depois canta-se o kurus-karas karessu. Ora designa-se assim kim ku pirdi. Meu Deus, consideremos que ninguém perdeu para não perdermos mais do que ja perdemos todos. Quem ganharia? O povo, senão: perderemos a única coisa que temos e que nos junta: a Guiné.
Eram cinco horas da manhã, mais uma vez levei o batalhão de familiares para o nosso abrigo. Vamos no quarto dia de guerra e, o dia de ontem foi particularmente violento. Mas, Alinu-li na mentu ntidu ku balas surua Bandé trás, Kiliquir dianti Nô firma suma nô matchundadi na defesa di sigridu di barraka.
Ali élis li é na Ndjata ka na retourner
É ka kunsi nin Kankuran nin Ussai Plek
Kada kim kada Ndjol kada Ndjai arnegu di élis
Ma é ka tissi nin fuka nin bissap
Arma na kosta pa montia Republika rebelde
Ala é na bai fidjus di Ndjai Té kuma Ndjai Djú
Korda di lantcha na rabada / Kanela seku / Kabelu
kuma bosta di kabra
Arnegu di Djop ia Ussalanka

Lutu di Brá I ka tchiga fidi Lifanti
Binhalé um Djamba na Polon bu Fogantal na Puntu Sibi
Montiaduris nhominca salta na Djiba I djunki na Nghala

Alinu li ku elis suma tap ku bangadje
Ronku I ku elis / Ma badju di Brá I djambadon
Guer lambés na toka sikó Djamba na badja kafé kinti

Alinu li Na kassabi di P'Nghana
Kada familia I um stera di tchur
Kada surua I um fora di nós ku na padjiga dur na Pátria

Ali é nega far kussa di bai kuma Bissau mela tchut
Arma na pontada / Lunetas suma di Bubu Na Tchut
Ali élis li é na sussa lensolis di Pátria
É na sibi riba ku bás / Suma djintis ku bin nan Ten Tchon
Alinu li ku returnez na totis
Albés ku fomi albés ku sedi / Pontada kumpridu ma é nega bai
Ali élis li é na kunfundi M'Pandja ku Psak
É na buska Repúblika pa montia
Alinu li nô firma tcham suma nô matchundadi Pó di Sangui
Certeza na kabeça / Amanhã suma farol dianti
Esperança na pitu/Nô n'dianta ku nó terra
pabia di amanhá djitu ten na glória di Brá

Sinais de paz?
Talvez agora!
São cerca das três da tarde. Os tiros são menos frequentes. Estarão os soldados almoçando até a esta hora ou a amplitude da carnificina conseguiu finalmente humanizar os beligerantes? De repente a rádio nacional que durante todos estes dias propagava que só haveria trevas quando uma das partes se rendesse, anuncia a chegada de uma delegação togolesa para negociar um cessar-fogo. O que é que se passa? Perguntei-me a mim mesmo. Há poucos tinha falado com alguns diplomatas da troika facilitante que desde ontem tentam em vão obter uma audiência com o Presidente. De tempos em tempos ainda soam disparos de canhão nas zonas de Bandim e de Pessube/Bissak.
A notícia de uma trégua que poderia transformar-se num cessar fogo é anunciada pela rádio nacional, que desde logo acusa a Junta de não estar a respeitar esse acordo de cavalheiro, à espera de um acordo definitivo a ser negociado com as partes pela delegação do Togo. As crianças saíram logo dos bunkers e encheram as ruas de alegria, jogando à bola ou livrando-se em, pequenos grupos, a grandes "passadas". Falam do Estin muri, da casa do Fulano arrebentado pela bomba, Beltrano cobardolas que não ousava piar mesmo dentro do bunker e do sicrano "mancebu" que mesmo sob as bombas tinha tempo de andar aos engates.
Ivone não acredita que a vinda dos togoleses possa trazer rapidamente a paz. "Mbé, manera ku é na ameaça Nghutru sin, N ka fia". Mas dentro dela mesma, mais do que todas as outras ela almejava uma paz imediata. Mais uma vez o seu marido Ntoni está ausente quando Bissau é arrebatada pela guerra. Não vão as pessoas pensar que Ntoni sabe das coisas dos militares, porque desde que deixou a tropa colonial e arranjou um taxi, depois um bar e depois um camião e, depois, uma ponta e uma bela casa nos lados de poilão de Brá, ele não frequenta gente de arma. É que Ntoni, filho de Albino é um homem atarefado. Como se diz, quase um homem de negócio. O negócio de Ntoni não é arma, mas coisas da terra, do debaixo da terra, como madioca, batata, cajú, manga, americanos, ANAG, Canchungo, Paris, etc… Ele nunca está em casa. Passa mais tempo nas ondas da rádio. A mulher se queixa, mas "Ntoni ka ta menda", por isso, quando começa a guerra e "ka ta mati".
"Disgustu di Katchur I kontentamenti di lubu". Tino não sai muito estes dias. Pior, ele, herói de todas as guerras, famoso pelo desprezo dos abrigos, agora cola com a mulher no bunker da casa do Só Rachid. É que as bombas da Junta chovem agora caindo por tudo quanto é sítio. Ontem caiu na Farmedi, ao pé da Fortaleza de Amura, e matou imediatamente seis pessoas, entre as quais a filha do falecido Comandante da Marinha, Filipe, que morreu juntamente com Feliciano Gomes no início do mês de Agosto. A irmã mais velha de Paulo Silva morreu nesse mesmo sítio e na mesma altura, vítima de um fulminante ataque cardíaco. Chegam notícias de que a casa do João Blacken foi atingida duas vezes. O palácio também teria sido várias vezes alvejado, dizia alguém no bunker. E, parece que as bombas estão sendo dirigidas - diz alguém citando serviços de segurança. Passaram com Jonatas no carro - retorquiu um companheiro. Qual Jonatas? O irmão do You, Helder Proênça. Mas Jonatas está doente de cabeça! Doente nem sabe se há bombas e nem onde caem. Vieram buscar o Pumpo. Mbé, o que é que se passa ? Parece que os homens fardados que o vieram buscar disseram que por causa dele as bombas não caíam no Chão de Papel. Mas Pumpu di Tio Inácio de Alvarenga não faz feitiços - respondeu um vizinho dele, neto de Gã da Silva. Alguém gritou: "Ah si na tempu ba di Tia Orélia Ndjai, nada di és ka ta sedu. Vamos avisar a Liga." Aí vão eles correndo para a casa do Valdo enquanto que, numa Toyota branca, Pumpo, ladeado por dois capacetes de ferro no banco traseiro, viajava para sítio incerto. "Anta kau fenhi" - murmuraram os presentes incrédulos, pelo que viam e pelo que ouviam na rádio. "Anta kau fenhi".
E a paz ainda não tinha chegado às nossas casas. Pelo contrário, chegavam notícias de prisões de gente acusada de estar a dirigir tiros da Junta. Soavam incessantemente estrondos por tudo quanto é canto da Capital.
"É stá dja na Chapa. É na ientra é dinoti". Cada um "cuava as suas nobas" que mais não eram do que desejos pessoais de ver o conflito um desfecho rápido. Nos bunkers como nas rádios muitos são os que preconizam a solução final. Estes certamente não foram ao hospital ver cadáveres irreconhecíveis, sem cabeça, sem membros, cortados ao meio. Para ver crianças feridas e que perderam todos os membros da sua família. Esses apologistas não viram Ntumbo endoidecido pelos estrondos a dançar na estrada ao ritmo das balas. Não. Não viram nada. Uns defendem o que têm, enquanto que os outros lutam por aquilo que esperam alcançar. Por isso a claque irracional reclama uma guerra fratricida até a vitória final.
Finalmente, pela voz do Ministro de Iadema, os guineenses tomam conhecimento do novo acordo de cessar fogo, lido nas ondas da Rádio Nacional. A Junta mantém-se silenciosa. As suas emissões estão quase completamente cobertas pela Rádio Nacional. O texto não diz nada senão cessar-fogo e facilitação do desdobramento imediato das tropas da Ecomog. Cadé o problema das tropas estrangeiras? O que terá acontecido com a Junta? Quando é que vão reagir? Terá acontecido alguma coisa ao Zamora ou a algum destacado dirigente do movimento? Porque é que ele não fala desde Domingo? Deus é grande!
Esperemos que este acordo não venha a significar caminho aberto à perseguição interna, nomeadamente dos amigos da Junta da rua dez, como se diz na Rádio Nacional. E a noite vai caindo com o silêncio da Junta, com a prisão do Pumpo, mas com uma paz anunciada. As bombas continuam, mas cada vez mais ao longe, nas zonas de Plaque, de Bissak e de Enterramento.
Bissau, 3 de Fevereiro de 1999.
H M

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Andanças



deixai-me vaguear
por estes enredos
caminho
da crua unidade

se um dia
a minha língua
for condenada
ao abismo
das palavras...

escavai os meus passos
ressuscitai os traços
são pegadas
fac-similadas
das matrimoniais
andanças
ancestrais

eternidade!

Adão Quadé
2002/02/10

quinta-feira, janeiro 26, 2006

terça-feira, janeiro 24, 2006

África esquizofrénica


Na batente da sua porta
espreito uma mãe que já não importa
que significado tem a vida
pela inconstância vivida

esta chama-se África
e é uma situação esquizofrénica
que a incita a esquecer-se dela
quando todos os olhos voltam para ela

na aurora, juntamente com os raios solares
penetro no seu «konko»[1]
todo o sofrimento traduzido em lágrimas é pouco
só nota-se desespero nos olhares

é ali dentro que tudo vejo mas não refilo
vejo ali criança que já não é filho
acredito que enquanto vivemos tudo podemos ver
vejo ali morto que não é cadáver

pode parecer mistério
mas sem túmulos é ali o cemitério
e, até voz já não há p’ra gritos
no fundo vive-se de palpites

Manuel Pedro pereira, Jr.
(DJOMBODIKILIN)
Moscovo, 30/08/2003

#

[1] «Konko» anêxo a uma casa, uma especie de niquel