terça-feira, janeiro 24, 2006

África esquizofrénica


Na batente da sua porta
espreito uma mãe que já não importa
que significado tem a vida
pela inconstância vivida

esta chama-se África
e é uma situação esquizofrénica
que a incita a esquecer-se dela
quando todos os olhos voltam para ela

na aurora, juntamente com os raios solares
penetro no seu «konko»[1]
todo o sofrimento traduzido em lágrimas é pouco
só nota-se desespero nos olhares

é ali dentro que tudo vejo mas não refilo
vejo ali criança que já não é filho
acredito que enquanto vivemos tudo podemos ver
vejo ali morto que não é cadáver

pode parecer mistério
mas sem túmulos é ali o cemitério
e, até voz já não há p’ra gritos
no fundo vive-se de palpites

Manuel Pedro pereira, Jr.
(DJOMBODIKILIN)
Moscovo, 30/08/2003

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[1] «Konko» anêxo a uma casa, uma especie de niquel

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