sexta-feira, dezembro 30, 2005

Djunda-djunda


na djunda-djunda
di sol ku lungha
n ka na mati la

si pintchadur di lenha
ka tem
anta nha boka ka sta la

ma suma bantaba
i na nha tapada
anta n djumna tchon

21.06.01
N.A.

Kabantada
























ora ku mundu na bida kaba
ora ku tchon na bai iagu
oki djine na bai si nteru
n ka na mati la
n ka na mati laba dufuntu
n ka na mati kamba kaxon
n ka na mati karga djongagu

dia ku mundu na kaba
n na bai djuti suma djurto
na fiu di kabelu branku
di polon bedjoti
ku foga na baril di aos
na djitu di libra sarampu
na moransa sin erderu

n ba ta djamu ku un kuku di udju
di n'ulidera di garasa di fadiga
tchur di noiba nobu ku ka saradu
(padas di ratadju ku ka tchiga
mundu di soda pa feti-feti)
sin panu di pinti na fundu mala
paqui si mortadja fadjaduba dja
aonti na toka-tchur di amanha

20.03.2001
Viseu?
Ndongle Akudeta

Bejusa

té pa bedjusa na kasa
mindjor na mortu
sabura dja ta bim lakati
kosta ta gasta na katri
i sim o i ka sin satu?

frintanba ku kabra-di-matu
ku mediba tiu lubu na nobresa
na lebsimenti ta bin dal tapona
mangu birdi ku sutau na totona
bas di pe di sombra ku bu ta diskansa
dinti ta falsiau pa disinganal

tchiu tempu dja pardos
kil ku gustus-ba anta malgos
n' ka regua nha flur
ai... kal koldadi di dur!


B.leza.09.12.01
Ndongle Akudeta

Nha Nomi


feito
palimpsesto
para a reescrita
sem rascunhos

sou a tela
em que se esboça
todo um vasto teorema
sobre a arte

acima de tudo
sou saliente
como uma moldura

e de repente
com punhos e vela
sem protesto
constroem novelas
a encenar-se no marte

2003.29.29
Adão Quadé

oiço o teu palpitar

oiço o teu palpitar
a baloiçar na corda bamba
de uma promessa falhada

afogando o tempo no contratempo
o fio de prumo converge os pontos
em linhas curvas do desencontro

a luz do teu transpirar quente
revela a tortura de um gemido obscuro
rangendo as grades em mármores
feito de lama ebanal do teu peito sem jeito

água do copo entornado
nunca mata a sede ao corpo
mas o cântaro que vai a fonte
um dia até lá se encontra o amparo

A.Quade
30.08.2003

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Nha fala

À Lídia à beira do rio

*
Nha fala i un dus pasu
atlantiku na diapason
kuimbra neni bu tuada
na un kurpu kebra-kebradu

na un maranha di iran segu
bu sirbi tas na barkafon
di nha poetandadi

bustu di kabral na iari-iari
kuma tchon ka rakunsil

suma kobra ku na ramenda
djunki turpesa di mar
bu latchi bu tadju di palmera padida

malila bagana forsa
pubis taranta didia uan
bu serpentasku
teju ku na lagua
beju di maron di djiba

kur di bu djindjirba pe di ankol
katabentu di ermankono
na prantcha di sakor

nha sunhu i kil un son son
ma falan kuma
liti ku basa ka ta djunki
kabas di djamakosa

n sikidu na Pindjiguiti
n na panga foli
pa maskotia bu suris
na kalkanhada di pilikanu
pa bua sai nkanta mundu

ku bu garganti fonghol
na palku nha sunhu
alma-beafada
reinu di ndoli

Ndongle Akudeta
23.03.05 - 18:00

quarta-feira, dezembro 28, 2005

O poeta não cala


Neste tamanco que não é meu
vou andando
que me dói o calo
neste fôlego poético
vou respirando
porque eu…
eu não me calo

“na fedi” ou “na sabura” [1]
apraz-me esta gala
o poeta não se cala
e nunca pode
nesta loucura
que deixa os fracos
inânimes e pasmados

o poeta tem algo a dizer sempre
mesmo sem palavras
mesmo se em voz timbre
ou se em folhas amarrotadas

Manuel pedro Pereira, Jr.
(DJOMBODIKILIN)
Moscovo, 02/12/2005

*
[1] “na fedi” ou “na sabura” – expressão crioula que significa - em tristeza ou em alegria

terça-feira, dezembro 27, 2005

EM SIMPLES IDEIA NASCE GRANDES PROJECTOS

"Aqui vai o poema de que te falei.
é da autoria de um jovem a estudar no Brasil... é muito bom em escrever, agradecia q públicasse as obras dele no seu espaço.
Abraços"
Nelson Constantino Lopes, Obulum




Nasce o compromisso na via árdua
duma alvorada para ombrear o cansaço
e continuar démarche
até que nos olhos exaustos
nos corações afligidos
se apaga a fogueira da dor
que em vãos devaneios se faz do homem
semeador da quimera e não tanto
realista que o mundo já teve
deste furor, dias a fio
correndo as veias do tempo circundante
para que o futuro espreite melhores dias.


Da autoria: Avelino Gomes Costa

Brasília-DF, 15/12/05

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Filinto de Barros e o Kikia Matcho




Filinto de Barros: acerto de contas com o passado?

por: Moema Perente Augel


Filinto de Barros afirma que seu romance Kikia matcho não passa de um pequeno exercício de ficção. Nem história, nem sociologia, nem etnologia, nem política, tão somente uma abordagem que se pretende dinâmica do processo de síntese sócio-cultural de um Povo (cf. Barros, 1998, p. 7).
O título é a designação crioula para o mocho e a essa ave são atribuídas na Guiné-Bissau propriedades diversas: pode ser mensageira do bem e do mal, mas sobretudo é ligada a maus presságios e à má sorte. Através do kikia e da sua simbologia, Filinto de Barros introduz o leitor e a leitora no mundo mágico e mítico africano ao mesmo tempo em que, pela interação das personagens, estabelece a ponte entre o passado e o presente.
Em seu conjunto, o livro Kikia matcho encerra uma soma de informações sobre o processo da independência e os primeiros passos de um Estado em formação. Essas informações são a razão de ser da obra, a estória constituindo apenas um pretexto. Ao mesmo tempo em que informa, ativo participante que foi da gestação e do momento desse parto, Filinto de Barros mobiliza os diferentes níveis da narrativa, direcionando-os tanto para o exercício dialético da compreensão do processo como para o julgamento dos seus resultados. Informação a nível do passado e interpretação a nível do presente, o romance deixa entrever sombrias perspectivas para o futuro. É sobretudo uma constatação dos acontecimentos contemporâneos com um olhar para o já acontecido, com o fito de esclarecer, explicar a situação atual do país.
O abandono sofrido pelos antigos combatentes da liberdade da pátria, cujo soldo não basta para um saco de arroz, é mostrado bem cruamente em Kikia matcho e seria um exemplo do desmascaramento intencionado pelo romancista Filinto de Barros.
Uma lembrança presente no coração do povo, que não faz parte da herança hegemônica, foi ainda evocada por Filinto de Barros que pôs a descoberto o fato do combatente morto ter perpetrado atos menos nobres, vergonhosos mesmos, não coadunando com a aura de heroismo que sempre envolve os "combatentes da liberdade da pátria". O autor ousou assim confessar o lado podre da gloriosa luta da libertação nacional, o abuso nunca mostrado às claras da utilização indevida das armas, evidenciando a perversão da "cultura da guerra", presente não só no campo inimigo. O processo de revirar ou reverter certas ambigüidades morais e factuais, cristalizadas em poderosos mitos patrióticos, faz parte da construção social da realidade, para usar a expressão divulgada a partir de Berger e Luckmann na Sociologia4. Ela é desmontada aqui e confrontada com uma outra visão, oposta e desafiadora.
Somente alguns poucos meses após a publicação desse romance, a 7 de junho de 1998, como já disse, eclodiu no país uma revolta no seio dos grupos dirigentes, entre representantes dos heróis da libertação transformando-se em guerra aberta e dolorosa que, depois de onze meses de sempre renovados conflitos armados, encontrou uma solução, que esperemos seja duradoura, a 7 de maio deste ano de 1999. Os presságios do Kikia Matcho ou os horrores acumulados em Mistida parece se terem confirmado. O sangrento embate entre fracções do exército nacional e contra o povo que conta entre os mais pobres do mundo, relança o questionamento sobre a legitimidade do regime tido como revolucionário, há quase trinta anos no poder, e sobre seus dirigentes, em grande parte os mesmos desde a independência. O legendário e carismático PAIGC está onipresente no romance de Filinto de Barros. Os donos do poder estão caricaturados até a desfiguração no romance Mistida, de Abdulai Sila. A revolta militar encabeçada pelo chefe do Estado Maior do Exército, General Assumane Mané, contra o governo dirigido pelo Presidente João Bernardo ("Nino") Vieira é expressão da crescente insatisfação e da decepção aqui tantas vezes já exteriorizadas, da parte dos antigos combatentes pela liberdade da pátria, compartilhadas pela grande maioria da população.
Esses recentes acontecimentos na Guiné-Bissau estão contribuindo para que o discurso oficial hegemônico se esvazie e perca a sua aura, reiterando de forma dramática a triste atualidade da urgência de uma reinterpretação da História, reflexão essa encetada pelos romancistas pioneiros Abdulai Sila e Filinto de Barros.
Considerações finais
Todos os escritores aqui referidos têm em comum uma tarefa de recuperação da africanidade e da dignidade perdidas, de procura e de afirmação da identidade nacional: tanto os afrobrasileiros como os guineenses, cada grupo a seu modo, cada autor com seu estilo próprio, com sua voz única e específica. Trata-se de uma literatura exortativa, sim, literatura engajada, literatura social, no seu sentido mais amplo, mas literatura exercício estético de beleza e busca do eu e do nós, mais profundo e mais verdadeiro, que têm a ver com raízes, umbigo, magma; literatura incitamento a um mergulho dentro de um passado doloroso e de difíceis lembranças, incitamento à empatia, ao sentir com, ao fazer com, incitamento à adesão, ao "concerto do djunta mon", de que fala o escritor guineense Tony Tcheka (1996:69).
O passado, tanto o passado bom como o passado infame, tem que continuar sendo relembrado como uma parte da identidade do africano assim como do afrobrasileiro. Embora consciente de que um número cada vez mais numeroso de afrodescendentes tenham hoje em dia alcançado um nível social e financeiro muito elevado e a franja dos bem sucedidos seja cada vez mais larga, no mesmo poema Cuti não deixa esquecer: Hoje é amanhã e ontem [...] / chicotes modernos não só relembram são chicotes/ que batem que rendem mais aos fundos senhoriais (Cuti, Resposta).
Cuti, que sempre, em todos os seus escritos, convida e incita à reflexão, admoesta: Quem disse [...] que é preciso calar a voz dos ancestrais? (ebd).

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Bibliografia
Alves, Miriam, Momentos de busca. Poemas, São Paulo: Edição daAutora, 1983
Assmann, Aleida und Jahn, Christof Hardmeier (Org.), Schrift und Gedächtnis. Beiträge zur Archeologie der literarischen Kommunikation, München: Wilhelm Fink Verlag, 1983

Assmann, Jahn, Die Katastrophe des Vergessens, in: Assmann, A.e D. Harth (Org.), Mnemosyne. Formen und Funktionen der kulturellen Erinnerung, Frankfurt/M: Fischer Verlag, 1993, p. 339-347

Augel, Moema Parente (Org. e Intr.), Schwarze Poesie. Poesia Negra. Afrobrasilianische

O Autor

Filinto de Barros nasceu em Bissau a 28 de Dezembro de 1942. Fez estudos secundários no Colégio Nuno Álvares, em Tomar, e estudos superiores na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra e no Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa. Depois da independência da Guiné-Bissau foi embaixador em Lisboa, entre 1978 e 1981. Na Guiné-Bissau exerceu vários cargos políticos, entre os quais ministro da Informação e Cultura (1981-1983), ministro dos Recursos Naturais e Indústria (1984-1992) e ministro das Finanças (1992-1994).

Mistida: Uma obra de ficcão guineense adaptada ao teatro

Os Fidalgos, grupo de teatro guineense, estrearam “Mistida”, de Abdulai Sila, no dia 30 de Outubro, em Bissau. Com este trabalho, baseado em dois capítulos do romance do escritor guineense Abdulai Sila, publicado em 1997, Os Fidalgos, pela voz de Amélia da Silva, pretendem «mostrar que cada um tem a sua mistida, um assunto muito importante na vida para resolver, seja onde for». Nas palavras do autor, que escreveu ainda “Eterna Paixão” e “A Última Tragédia”, “Mistida” significa amor, demanda interior que nos impele à sua procura. A direcção artística do espectáculo está a cargo de Amélia da Silva, Jorge Biague e Musa Camará, com o apoio de Andrzej Kowalski. Paralelamente a esta estreia, Os Fidalgos preparam a re-montagem do espectáculo “O Lutador”, uma co-produção do grupo com a Cena Lusófona estreada em 2002 e apresentada no ano passado em Coimbra no programa da Estação.
SILA, Abdulai

[GUINÉE-BISSAU] (Catió, 1958). Ingénieur électronicien. Cofondateur de la première maison d'édition privée Ku Si Mon et de la revue littéraire Tcholona, en 1994.
Romancier (Eterna Paixão, 1994 ; L’Ultime tragédie, 1995 ; Mistida, 1997, etc.). Considéré comme le premier roman guinéen Eterna Paixão traite de la transition de la société guinéenne, du passage des structures coloniales à l’installation d’une nouvelle élite issue de la lutte pour l’indépendance.
L’Ultime tragédie revient sur la période coloniale à travers le personnage d’une femme, Ndani, dont on dit qu’elle porte malheur.ANTHOLOGIES / REVUES : « Un monde si différent » (extrait de L’Ultime tragédie, 1995), traduit par Alain Canihac et Grazeiella Neves Forte Canihac, dans Des nouvelles du Portugal, Métailié, 2000.
— L’Ultime tragédie (A Última Tragédia, 1995), roman, traduit du portugais par Alain Canihac et Graziella Neves Forte Canihac. [Paris], Éditions Sépia, « Sépia-Poche », 1996, 224 pages, 7 €
Em Lisboa pode-se achar os livros de Abdulai Silá em Livraria Mabooki ou Instituto Camões.

A prosa contemporânea na Guiné-Bissau



Conquistada a independência, as novas burguesias e as novas elites estatais africanas conseguiram estabelecer um sistema de conservação do poder que passou a funcionar a todo preço, baseado na repressão, no partido único e no governo do "homem forte". O resultado foi que em muitos países se instalou uma oligarquia corrompida, preocupada com o seu próprio enriquecimento e com as suas próprias vantagens, enquanto que o povo continuou nas mesmas dificuldades, lutando por uma sobrevivência material e moral, cada vez mais miserável. As esperanças existentes outrora, quando o fim da colonização, cada vez mais próximo e concreto, animava aos que lutavam pela libertação, acenando para um mundo de igualdade e justiça, foram substituídas pela frustração, pelo derrotismo e pelo acomodamento(1). Tal estado de espírito é comum a toda a África negra.

Na galeria de personagens de Abdulai Sila destaca-se, no seu terceiro e mais recente romance, intitulado Mistida, um desfile alucinante de figuras absurdas: Amambarka, Nham-Nham, Yem-Yem. Sobressai-se o aberrante e assustador Amambarka, parricida, ganancioso, viciado e execrável, cujos traços repugnantes foram hiperbolizados pelo romancista até a exaustão (cf. p. 87-96). Esse nome foi tirado da língua mandinga, sendo um lexema que tem conotação de coisa ruim, do que não presta. Nham-Nham, onomatopéia indicadora do ato de comer, é um ser repugnante e alienado, cego pelo poder, entorpecido pela bajulação, idiotizado mas perigoso, completamente dependente do diabólico Amambarka. Yem-Yem, o "carrasco", é outra figura intangível, enredado na busca da palavra esquecida (ibid., p. 161), aterrorizador das pessoas (ibid., p. 171).
Esses seres chocantes, porém, foram inspirados em pessoas reais, deformadas e caricaturadas, para os menos avisados impossíveis de serem reconhecidas mas nem por isso menos verdadeiras nem menos ameaçadoras, pois faz parte da arte de convencer lançar mão de recursos do horror. Os protagonistas de Mistida, aparentemente absurdas personagens, são verdadeiros atores da sociedade atual - e não só da Guiné-Bissau - e estão, cada um a seu modo, em busca de "estratégias individuais postas em jogo à procura de saídas e novos sentidos que permitam sobreviver à desestruturação", como disse Teresa Montenegro no prefácio. Mais uma vez, apesar dos horrores que enchem este seu terceiro livro, Sila lança sua mensagem de esperança, de teimosa esperança: existe uma perspectiva para seu sofrido país. Apesar dos montões de lixo, material ou humano, há as Mama Sabel, as Mbubi, as Ndani e as Djiba Mané, personagens femininas fortes e até certo ponto contraditórias, sumamente positivas, com as quais o autor se identifica e que personificam a comunidade subalterna, sem poder, mas vigilante e altiva.
Em Mistida, Abdulai Sila escolheu as vias oblíquas do absurdo e do paroxismo para pôr a descoberto o indizível, aquilo que, embora não tivesse sido esquecido, estava obliterado e silenciado. Esse caminho ziguezagueante tornou-lhe possível recordar um passado recente cheio de contradições e afrontar um presente já agonizante que se queria (ou ainda quer?) eternizar no futuro. Quem está seguindo os acontecimentos atuais na Guiné-Bissau pode, mais do que nunca, captar os lances terrivelmente proféticos de Mistida.
_________________
(1). Sobre o assunto, cf. Guy Ossito Midiohouan, L'idéologie dans la littérature négro-africaine d'expression française, Paris: L'Harmattan, 1986:208 e ss.
Sila, Abdulai, Eterna paixão, Bissau: KU SI MON Editora, 1994, Sila, Abdulai, A última tragédia, Bissau: KU SI MON Editora, 1995

Sila, Abdulai, Mistida, Bissau: KU SI MON Editora, 1997
Augel, Moema Parente, A nova literatura da Guiné-Bissau Bissau: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP), 1998, Série literária, Colecção Kebur, nº 8
Cuti, Batuque de Tocaia, São Paulo: Edição do Autor, 1982
Cuti, Flash Crioulo sobre o sangue e o sonho, Belo Horizonte: Mazza Edições, 1987

A Guiné-Bissau e sua prosa ficcional

Moema Parente Augel

Na Guiné-Bissau, país de história recente em vias de grandes transformações sociais, a sua incipiente literatura reflete tanto esse jovem passado e os caminhos da emancipação como o estado emocional dos guineenses ante a decepção causada pelo que se considera a traição dos ideais revolucionários por parte dos dirigentes. A produção literária contemporânea faz eco, na sua variedade, aos anseios e às preocupações da elite intelectual urbana, inconformada com a situação política e social do momento presente. Assim, dada a quase inexistência de fontes escritas de informação, travar conhecimento com as obras que aí se estão produzindo desde a independência é uma das melhores maneiras de compreender e apreender este pequeno enclave de língua oficial portuguesa, de cerca de 36.000 km2, no meio da costa ocidental africana.
Com seus três romances (Eterna paixão, A última tragédia e Mistida), Abdulai Sila, que é o fundador da ficção guineense, não se restringe à simples constatação do desastre em que resultou a libertação do jugo colonialista, nem se detém apenas no desfiamento das mazelas que cobrem o povo guineense: vai procurar os responsáveis e os denuncia, direta ou indiretamente. Filinto de Barros, com seu único romance Kikia Matcho, desenvolve, a seu modo, paralelamente à trama romanesca, um amplo esquema de explicação para basear suas críticas e sua análise do momento por que passava seu país. Também ele levanta a voz e denuncia, põe o dedo nas feridas abertas pelos seus próprios correligionários1.
Os recentes acontecimentos na Guiné-Bissau, que culminaram com o desencadeamento da guerra fratricida que por mais de um ano (mais exatamente de 7 de junho de 1998 a 7 de maio de 1999) tumultuou e desarticulou o país, estão contribuindo para que o discurso oficial hegemônico se esvazie e perca a sua aura, reiterando de forma dramática a triste atualidade da urgência de uma reinterpretação da História guineense.

O Miguel sai do Benfica


O Miguel sai do Benfica
à Europa bem fica
e, é em África
que fica
gente do globo menos rica

o Miguel sai do Benfica
na hora bendita
e boca maldita
exige que ele fique. em crioulo “fika”

na Guiné
todos queremos ser dirigentes
todos somos
politiquentes
p’ra mamar ou p’ra quê

em África
o campo está quente
suada está a testa da gente
correndo atrás da bola
que rola, bola, rebola, e carambola
não é finta, tudo é futrica

por isso sem malas, sem roupas
vão à procura das Europas
através do Marrocos
quem não sabe pode pensar que são malucos

quem não lembra do pobre Ali?
a união europeia
inventa epopéia
colocou-nos ali
veio armada em salvadora
e, mesmo assim no nosso mar furtivamente ancora

digo p’ra si - meu Deus
levantando olhos p’ra os ceus
e meus braços em prece
vivo a mercê e vou ao túmulo a mercê

que cérebro
ténebro
mesmo com livro
de tudo, de nada não livro

o Miguel sai do Benfica
mesmo com crítica
quem não arrisca
não petisca

Miguel
bai bali bu kabesa bai bali bu gintis

Manuel Pedro pereira, Jr.
(DJOMBODIKILIN)
Moscovo, 30/11/2005

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Boas festas

assim tudo começou...
****
****** **************

***







e...finalmente...

O verbo se fez homem

Inverno 2005

O corvo negro vai voando
na mansidão invernal
no silêncio musical
cantando

oh, branca da neve
desejo que caia leve
vestindo de noiva a cidade
alguém vai fazer tudo o que pôde e deve
o importante é que no coração o amor leve

Moscovo, Inverno 2005
se eu podesse, adiava-o
se pudesse, do meu calendário apagava-o
e, no seu lugar escreveria um texto lírico

na neve escrevi ËÞÁÎÂÜ-amor em russo
que aos poucos derreteu
por completo desapareceu
nas águas que tomou outro curso

hoje inverno -frio
amanhã primavera -flores
hoje vivemos. são dores
amanhã ninguém sabe. Pode ser trio

o tempo tudo dirá
não hesite, não apresse-o
o acontecimento. a esfera que gira
e o dia. um dia o sol aquece-o


Manuel Pedro Pereira, Jr.
(DJOMBODIKILIN)
Moscovo, 04/12/2005

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Nha mandjua

kantu seku, kantu tchuba
aós ami i rapas garandi
abó I badjuda m’bombo
nó sedu dunu di nó própi naris
nó djunta lama, nó tira dubi
nó kumpu kasa
nó findi sibi
nó korta padja, nó kubri nó kasa
nó finka pedras di fugon
nó sumia plantas
nó padi fidjus
kuma és ki omindadi ó mindjerndadi

ma rispitu gora!
malkriason toma konta di kasa
ika ten mininu ika ten garandi
i ten so binhu, so plitika, moli mon
fumu pasa dianti ina tcholona
tchigada di fugu ku manda pólvra
es ki i sunhu
Ki nó konstrui ki nó própi punhu
es i nha Guiné, nha mandjua


Manuel Pedro Pereira, Jr.
(DJOMBOKILIN)
Moscovo, 30/11/2005

Tributo à Minha Mina

Oh mãe tome esta flor
e esqueça da dor
do momento do parto
ou do quando eu parto

eu de ti nasci
e esta flor da terra
vendendo nos becos cresci
e esta! De rega a minha espera?

tu és doutora em ciências da vida
só agora reconheço
vale mais tarde do que nunca
toda a lição que agora tomo
é a revisão daquilo que tu me ensinaste

desculpe-me pelas divergências tidas
durante todo esse percurso
que elas são próprias do curso
da universidade da vida

longe de ti e em silêncio
caem em rimas
gotas de lágrimas
neste carme tributo a ti

obrigado 'nha Mina d’oiro [1]
que Deus te abençoe

[1] Nha - palavra crioula p’ra senhora, dona de casa

Manuel Pedro Pereira, Jr.
(DJOMBODIKILIN)
Moscovo, 21/08/2001

Contos de Ansumane Sanhá


"Um conto cheio de articulacão de pensamento
e da moral tradicional em conflito com a modernidade.
Um diálogo entre as duas sociedades que se entrecruzam
na resguarda dos valores civilizacionais"
Adão Quadé
Editor de Djambadon


DJUADÉ - MININU Dl KRIAÇON (conto)



Numa longínqua aldeia da Região de Bafatá, Leste da Guiné, vivia um rapazinho, localmente conhecido por Djuadé.

Tinha 12 anos, quando eu o conheci. Era alto, franzino e muito inteligente.
Á primeira vista, logo me simpatizei com ele, pois me impressionou a lucidez das suas ideias, a clareza do seu juízo, seu indiscritível gosto pelo saber e, particularmente, o seu espectacular dom pelas letras. É, realmente, um menino com um aguçado senso de inteligência. Distinguia-se sempre entre os seus pares, a ponto de ser apelidado com o nome de ustaju sakr (do árabe, o pequeno professor) nas aulas coránicas que algures frequentava.

- Djuadé, podias-me falar um pouco da tua vida ? - propus eu, veladamente.

- Porquê? Isso terá algum interesse para ti ? - quis ele saber.

- Sim, é uma questão de curiosidade. Entretanto, se ser-te-á incómodo, eu dispenso tudo - confessei.

- Não. Não - respondeu ele, prontamente. Chamo-me Alansó (da nossa língua, "Deus, acuda-me"). Sou órfão de pai, desde os tenros 4 anos. Portanto, tive a mágoa de crescer sem calor paternal. Minha mãe, coitada, sofreu muito durante largos anos da sua vida. Sou quinto filho dela. E, neste momento, o mais velho...

- Como assim ? - interrompi eu.

- Porque - recomeçou ele - à medida que a mamã dava luz, perdia os filhos, isto é, morriam. Não havia na da Terra porta do djambacus, muru ou iran que ela não pisasse, de tanto querer afastar de si o maldito dimónio que a levava os filhos. Mamã fechou no fundo da mala todas as suas bonitas garanbubas, complés, esperas e conosabas e passava a vestir-se de farrapos, levando uma vida de palhaça. Arranjou um esqueleto da mão de vaca, o qual considerava seu filho, que sempre levava nas costas ou ao colo e a quem deu o nome de Alanso, daí veio o meu nome. Mamãe dançava de porta à porta, contra oferta de qualquer coisa insignificante. Servia comida que lhe davam no canto do sujo pano que trajava. Tal era horrível o estado em que se encontrava até que o povo da tabanca a alcunhava de "Duo" (da nossa lingua, abutre)...

- Porque a tua mãe levava essa vida tão nojenta quanto indigna ?

- novamente, interrompi-lhe a descrição.

- Porque - retomou ele - um Djambacus a recomendava tal comportamento, pois, segundo ele, dessa ingenuidade e tolice jorra criatura.
Um dia, continuou ainda o Djuadé, chegou à nossa tabanca uma velha de nome BÉLON, a qual se compadeceu com o estado da mamãe e a recomendou que consultasse um poderoso iran beafada, numa localidade na Região de Quinara, sul da Guiné. A mamã logo se arranjou e viajou para Kubissecu.Volvidos não muito tempo, ela esperava dentro de breve mais uma criança. A notícia rápidamente se propagou por toda a zona. Até que, finalmente, numa tarde poerenta, sem sol, com céu nublado e gaivotas cantando ao som dos tombores no bantabá, a mamãe deu à luz um menino, dando-o o nome de Djuadé, por ser este nome do grande iran de Kubissecu.

Portanto, estás a falar agora do teu nascimento ? - perguntei eu ao Djuadé.
Sim - respondeu ele, curto.

Logo, apôs a morte do meu pai - continuou o meu interlocutor - este homem grande tomou-me em criação. (Apontou para um velho nonagenário que mais tarde mais tarde soube chamar-me Tauntéu).

- E como tem sido a tua vida aqui ? - perguntei, extasiado de emoção

- Tem sido uma sucessão de tragédias - respondeu ele, firme e pausadamente.

Na realidade, o Djaudé ou Alanso (como querem) não tinha tido sossego desde que chegou àquela morança.
Diariamente, de madrugada ao pôr-de-sol ia vigiar os animais daninhos (nos m'pampans) e os pássaros (nas bolanhas). Era ele que também cuidava do gado do velho. Abastecia a morança de lenha para a cozinha e fogueira, à volta da qual, às noites, cantavam as estórias de lubu ku lebre, depois das leituras coránicas no caranta[1]. Era sempre submetido aos trabalhos duros e dificiéis que não coadunavam com a sua idade. Ainda tão novinho que era, queixava-se da dôr espinhal, pois, segundo as suas palavras, durante o trabalho no mpampam, o velho Tauntéu sentava-se debaixo de árvores frondosas, com pedrinhas à volta, atirando-as a quem se atrevia se erguer, para descansar. Por isso, tinha que continuar de cócoras para evitar que o arremessasse pedras. Que crueldade! Que malvadez! Nunca tinha tempo para se arranjar como os colegas de idade. Mesmo nos dias festivos (Ramdão, Tabasky ou Novo Ano), aí estava ele a caminho do mato, enquanto os seus colegas ostentavam os últimos modelos de sapatilha "canfaz" ou plástico "krintim". De tanto ficar sempre na floresta, acabou podendo distinguir os cantos de todas as aves.

- Djuadé ! - gritava-o o velho num tom ameaçador - sabes que se não trouxeres aqui mais três feixes de lenha não tens direito à refeição ?

- Tio, já é noite e estou morto de fadiga - murmurava ele.

Ficava sempre à margem de tudo o que os colegas faziam.
Não sabia jogar futebol, muito menos sabia o que era filme de Konan. Não tinha coragem de frasear raparigas durante as noites de luar no bantaba[2].
Sempre que tentava o fazer, punha todo o peso do corpo em cima dos pés, tremia como vara verde e a voz dançava como os rapeiros.

Era nesse ambiente angustiante que crescia o inteligente Djuadé.

Caracterizado por uma indiscritivel vontade de saber, Djuadé invejava seus colegas que iam à escola. Por isso, sem se poder conter, confidenciou um primo da sua mãe, de nome Sulá, sobre o assunto, embora estivesse consciente que se o velho Tauntéu soubesse dessa intenção, o cavalo marinho cairia nas suas costas.
Sulá ficou pasmado, ao descobrir que o Djuadé não andava na escola, apesar dos seus já 14 anos ! Resolveu, nesse mesmo dia, transportá-lo, de bicicleta, para a tabanca de Meru, onde residia o professor Findam e ali o matriculou.


Quando o velho Tauntéu soube do sucedido, preparou-se para uma guerra mortal contra o Sulá, afiando, meticulosamente, machados, catanas e facas e aguardava que este surgisse a qualquer instante, acusando-o de querer desviar-lhe o menino.
- Ele quer que o Djuadé seja tchamidur e que se escape das minhas garras, Isso jamais vou tolerar, mesmo custando minha vida - ralhava ele perto do dábá[3] por onde o Sulá passava para o serviço.

Entretanto, em virtude da sua capacidade natural e inteligência genuína Djuadé muito cedo terminou o ensino básico. Com a ajuda do professor. Findam, ele prosseguiu os estudos liceais em Bissau.

Passados quase 10 anos, soube que Djuadé beneficiou-se de uma bolsa de estudos, tendo frequentado uma das renomadas e prestigiadas universidedes francesas ( a Sorbone).

Surpreendentemente, num dia desses, encontrei uma nota manuscrita na porta do meu gabinete de trabalho, com os seguintes dizeres: " O Dr. Djuadé convida-o a almoçar com ele neste fim de semana".

Lida a nota, fiquei embriagado de alegria. Meus senhores, não tenho palavras para descrever o momento do meu reencontro com o lentão miserável Djuadé, que hoje tornou-se num dos economistas de referência, quer a nivel interno, quer subregional. Ele casou-se e esperava brevemente ter um bebé a quem, independentemente do sexo, dará o nome de SABARÓ (preseverança), mas que lugar nenhum iria à criação.

Após o almoço, no momento de nos despedir, Djuadé segredou-me:- Meu amigo, o curso da minha vida provou que de facto, "enquanto há vida, há esperança" e "a perseverança é a melhor amiga do Homem". Agora só me resta uma meta a cumprir: tornar a minha pobre maezinha a velha mais feliz do planeta, fazendo-a esquecer dos muitos dissabores que teve na vida.

FIMAnsumane Sanha
Moscovo, 2003
In”Djumbai di no Terra”
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[1] Lugar, geralmente situado no centro da morança, iluminado pelas chamas, onde se leccionam as aulas coránicas[2] Sítio de diversão popular, nas tabancas
[3] Entrada principal para morança

Gina, Minha Amiga (Conto)



Por: Ansumane Sanhá



Eram duas horas da tarde, quando, muito suado, cheguei ao serviço. Nesse dia, fazia um calor mortífero, provocado por um sol abrasador. O céu estava limpo. Estávamos em pleno verão.

À entrada do Centro, encontrei duas miudinhas, aparentando entre os 9 e os 11 anos, descalças e rudemente trajadas, descansando, depois de terem deambuladas pela zona baixa da cidade, vendendo mangas, nos ministérios, empresas e repartições. À pergunta, como é que se chamavam, responderam-me, trocando o "G" e o "J" por "Z": - Eu chamo-me Zina (localmente conhecida por Ndjia) e esta, apontando para a outra miudinha ao seu lado, sua irmã, Zulia (Onor).

Tendo em conta as suas tenras idades e satisfazendo a minha curiosidade, indaguei-lhes o seguinte:

- Como conseguem tirar essa avultada quantia de mangas ?

- Eu subo. Sei subir. Faço-o normalmente quando não há muita temperatura e vento. No nosso quintal e também na nossa quinta temos muitas mangueiras, -respodeu Gina, cabisbaixa.

Gina e a sua irmã, Júlia, vêm a Bissau todos os dias, vendendo mangas. Através de uma conversa velada que com elas tive, depreendi que naquelas cabaças de mangas estavam depositadas todas as esperanças da numerosa família composta de um homem (marido), cinco esposas e dezassete filhos !

- O que é que fazem com o dinheiro que auferem da venda das mangas - perguntei eu, interessado.

- Compramos arroz e mafé. O resto usamos na aquisição de roupas e sapatos.


A vida tão dura que essas imaculadas crianças levavam, contrastava-se com a idade e o físico delas. Mas, que fazer? Se não vendiam mangas, não comiam. Que pena. Elas nem tinham oportunidade de frequentar escola.

- Vocês andam na escola ? inqueri eu.

- Não, respondeu Gina, premptoriamente. Nem tempo temos para nos coçar, quanto mais para ir à escola.


Essas palavras da minha amiga emocionaram-me. De repente, a pena e a compaixão apuderam-se de mim.
Depois de uma pequena pausa, a Gina pediu-me agua para beber. Dei-lhes agua fresca, e travou-se entre nós o seguinte dialogo:
Essa água queima a gente nos dentes, disse ela, apôs tentar beber agua fresca.

É uma questão de costume. Se te habituares, tudo será normal, disse eu.

- Há quanto tempo tu trabalhas aqui ? perguntou-me ela

- Há sensivelmente ano e meio, respondi eu.

- Que tipo de trabalho fazem aqui, foi a vez da Júlia a perguntar-me.

- Aqui é o Centro Cultural. O seu objectivo e a difusão da cultura brasileira e promoção de actividades literárias, expliquei-lhes.

Apôs ter respondido a uma chamada telefónica vinda de uma das dependências da Embaixada, veio-me à mente a seguinte pergunta:

- Com quem moram ?

- Com o nosso velho pai, de 90 anos.
Outrora, segundo nos informou mamã, ele tinha muito dinheiro. E como a riqueza de um velho naquele período avaliava-se pelo número de esposas e cabeças de gado que possuía, ele teve que se casar com cinco esposas. Infelizmente, agora, sem forças para nada e com o dinheiro tudo esbanjado na ostentação e fama, somos nós, os filhos, que pagam pela tamanha imprudência do velho, explicou-me a Gina, sem se poder conter as teimosas lagrimas que lhe caíam do canto dos olhos.


A minha compaixão foi tão imensa, que chorava copiosamente como chuvas de verão, por ela ter descorrido sobre todos esses detalhes.
Já à tardinha, quando o sol ia-se por, a minha amiga despediu-se de mim, oferecendo-me duas belas mangas. Dei-lhes 20 contos para pagar o toca-toca e comprar o plak fingido.

Apertando-me as mãos e com cabaças na cabeça, as duas irmãs lutadoras se puseram ao caminho de regresso à casa, prometendo voltar ao Centro noutro dia.

No dia seguinte, já mais cedo do que na véspera, cheguei ao trabalho. Esperei, ansiosamente, pela chegada da minha amiga e sua irmã.

Passaram-se horas, dias e semanas elas ainda não tinham chegado. Impaciente, fui à zona baixa da cidade, perguntando por eles.

Muito lamentavelmente, soube, através de colegas de "serviço" da Gina, que ela tinha caído doente já havia três semanas.
Apesar de ter sido já o cair da noite, nesse mesmo dia, fui à Farmácia Rama comprar medicamentos anti-paludico, enfiando-os num saco plástico, apanhei o ultimo Toca-Toca para Djoorl.

Chegado à tabanca do pai da Gina, perguntei à primeira pessoa com a qual me cruzei onde se situava a casa do velho Ndjomboco. O desconhecido, apontou, entre grandes arbustos, com o dedo indicador, uma velha e pequena palhota onde se apinhavam os vinte e três membros da numerosa família do velho.
Com cabeça entre as pernas e extremamente abatida, quase não conseguia reconhecer a outrora formosa, elegante e esbelta Gina na qual agora só restava o esqueleto do corpo.

Os cabelos começavam a enrugar-se e quase não se aguentava de pé, de tanto violento que foi o paludismo.
Quando nos vimos, molhamo-nos de lagrimas.

- O que te aconteceu para ficares tão arrasada e acabada em apenas três semanas, perguntei-lhe.

- Tive uma doença terrível, quase mortífera.
O papa foi ao Djambacus e este lhe disse que eu me tinha encontrado com o “mau vento”, respondeu ela, com palavras entercortadas.
-Que “mau vento”!!? Isso é uma história. Tu deves ter contraído o paludismo.
Eu proponho que viajemos até Bissau, para consulta médica, propus eu, sem esperança.

- O papa vai recusar, disse ela, totalmente desanimada.

Meus senhores, não podem imaginar a "Guerra" que travei com o velho Ndjomboco para convencê-lo a deixar-me viajar com Gina para Bissau.Apôs ter sido submetido aos necessários exames médicos na Clinica do Dr. Brandão, os resultados confirmaram que a pobre Ndjia, realmente, padecia de paludismo agudo, que se encontrava numa fase muito avançada e irremediável.

Nos meus braços, já no estado de coma, a Gina confidenciou-me:
- Meu querido amigo, obrigado por tudo o que me tens feito e desculpa pelas maçadas e incómodos que te tenho causado.
Aconselho-te a lutar, sem tréguas, para a irradicação total de todos os hábitos ancestrais nefastos à sociedade, pois, eu sou uma das vitimas dessas praticas.

Dito isso, a minha amiga fechou, sem nunca mais abrir os olhos e definitivamente descansou a árdua vida que levava na face da terra.

Ela foi apenas um exemplo de vitimas de adversidades e contrariedades da vida e do obscurantismo no qual ainda vive uma boa parte da nossa população.

Mas, mais do que isso, a Ndjia espelha, de forma ilucidativa, o perfil de uma lutadora incansável para a sobrevivência e manutenção da família.

FIM

Ansumane Sanha
Reeditado em Moscovo, 2003

Texto original escrito em 1991
In”Djumbai di no Terra”

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Impressões em cloro



Adoro tudo o que as pessoas gostam
tenho comigo cábulas - impressões em cloro
de todas as articulações que no ar baloiçam
em tons vivos perpetuadas num limbo inodoro

no histórico museu de sons
tenho registo directo de todos os barulhos
e murmúrios do tempo em miniatura

do que eu gosto na verdade
(gestos mergulhados na areia
podando os descontínuos movimentos

suspensos no tronco de um velho pinheiro louco)
espero de imediato causar desânimo aos adeptos impávidos

sou de antemão fanático
dos meus fãs fantásticos

22.08.03
Adão Quadé
Estefânia, casa do Tote

Escombros do meu ser

Sina edénica
escombros do meu ser
carga titânica
sobre meus ombros

sacra crença
iluminada pelas luzes bíblicas
nas cujas cíclicas leituras
procuro sempre a fé-esperança

enfim
estou de pé
e a fé dentro
mas mesmo de mim

Manuel Pedro Pereira, Jr.
(DJOMBODIKILIN)
Moscovo, 19/10/2005

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Sida

Oi, ratinha atrevidinha
bebeste do copo do fulano
e, ele no pote do teu corpo
comeste do prato do sicrano
e, ele no teu corpo ficou farto
ganhaste as moedas do beltrano
e, elas não te podem curar

e, agora pior que uma galinha na capoeira
está a ratinha atrevidinha na ratoeira
a sofrer tremendamente
até a chamada diabólica.


Manuel Pedro Pereira, Jr.
(DJOMBODIKILIN)
Bissau, 27/02/2000

Ndongle Akudeta wrote:

Ndongle Akudeta has sent you a link to a weblog:

Urgentemente!
Tente no máximo evitar as maiúsculas.Isso já foi suficiente grafado pelos nossos ancestrais. Sejamos modernos. façamos da poesia o hino da liberdade. Nada de convenções. A madrugada é a nossa bandeira!
Blog: DJAMBADONPost: Impressões em cloro
Link: http://djambadon.blogspot.com/2005/12/impresses-em-cloro.html

NHIMA…

Nhima, o caminho é em frente
se ontem eras do quintal do lar
hoje tudo muda, tudo é diferente
é primórdio afirmar-se universal e singular


Nhima, cinge bem o pano
e, diga basta ao uso e costume que peca
como a faca da fanateca[1]
pois o assunto é profano

exume da tua vivência
os nefastos preconceitos
adoptando novos preceitos
garante de condigna convivência


[1] Fanateca - mulher que pratica ou efectua a circuncisão feminina

Manuel Pedro Pereira, Jr.(DJOMBODIKILIN

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Fenando Pessoa: poeta dos poetas, discípulo de um mestre


Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa, no Largo de São Carlos, a 13 de Junho de 1888, filho de Joaquim de Seabra Pessoa (crítico musical do “Diário de Notícias”) e de Maria Madalena Pinheiro Nogueira.

Em 1893, perdeu o pai, vendo-se a viúva obrigada a leiloar os bens. Em 1894, a mãe conheceu o comandante João Miguel Rosa, cônsul interino de Portugal em Durban, com o qual casaria, por procuração, a 30 de Dezembro de 1895, partindo então para a África do Sul, onde receberia a sua formação básica, no seio de uma envolvente cultural inglesa.
Aí viveria Fernando Pessoa cerca de 10 anos, até 1905, ano em que regressou a Portugal.
Começou por estudar no convento de West Street, a que se seguiu o Liceu de Durban.
Em 1901, realizou com distinção o seu primeiro exame, o Cape School Higher Certificate Examination.

Entre 1901 e 1902, passou férias em Portugal, residindo em Lisboa, Tavira (com a família paterna) e na ilha Terceira (com a família materna).
Em 1903, obteria, com o ensaio de inglês que apresentara para concorrer à Universidade do Cabo, o “Queen Victoria Memorial Prize”.

Aos 15 anos, lia já Dickens, Shakespeare, Voltaire, Molière, Tolstoi.
Aos 17 anos, deixa a mãe, o padrasto e os seus cinco meios-irmãos, regressando a Portugal, para se matricular no Curso Superior de Letras – que apenas frequentaria por um breve período, entre 1906 e 1907 –, passando a viver na casa de uma tia, em Lisboa. Mais tarde, foi viver com a avó paterna, a que se seguiram diversas casas e quartos alugados.
Em 1908, para ganhar a vida, dedicava-se à tradução de correspondência estrangeira para várias casas comerciais.
[1856]

Fenando Pessoa: poeta dos poetas, discípulo de um mestre


Faz 70 anos(30-11.1935) em que morreu, aos 47 anos de idade, o grande, o maior, o ilustre, poeta português do séc. XX - Fernando Pessoa

Fernando Pessoa
dezembro 01, 2004FERNANDO PESSOA - AUTO-BIOGRAFIA
"Nota autobiográfica de Fernando Pessoa (1935)

Nome completo: Fernando António Nogueira Pessoa.

Idade e naturalidade: Nasceu em Lisboa, freguesia dos Mártires,no prédio n.º 4 do Largo de S. Carlos (hoje do Directório) em 13 de Junho de 1888.

Filiação: Filho legítimo de Joaquim de Seabra Pessoa e de D. Maria Madalena Pinheiro Nogueira. Neto paterno do general Joaquim António de Araújo Pessoa, combatente das campanhas liberais, e de D. Dionísia Seabra; neto materno do conselheiro Luís António Nogueira, jurisconsulto e que foi Diretor-Geral do Ministério do Reino, e de D. Madalena Xavier Pinheiro.

Ascendência geral: misto de fidalgos e judeus.

Estado: Solteiro.

Profissão: A designação mais própria será «tradutor», a mais exata a de «correspondente estrangeiro em casas comerciais». O ser poeta e escritor não constitui profissão, mas vocação.

Morada: Rua Coelho da Rocha, 16, 1º. Dto. Lisboa. (Endereço postal - Caixa Postal 147, Lisboa ).

Funções sociais que tem desempenhado: Se por isso se entende cargos públicos, ou funções de destaque, nenhumas.

Obras que tem publicado: A obra está essencialmente dispersa, por enquanto, por várias revistas e publicações ocasionais. O que, de livros ou folhetos, considera como válido, é o seguinte: «35 Sonnets» (em inglês), 1918; «English Poems I-II» e «English Poems III» (em inglês também), 1922, e o livro «Mensagem», 1934, premiado pelo Secretariado de Propaganda Nacional, na categoria «Poema». O folheto «O Interregno», publicado em 1928, e constituído por uma defesa da Ditadura Militar em Portugal, deve ser considerado como não existente. Há que rever tudo isso e talvez que repudiar muito.Educação: Em virtude de, falecido seu pai em 1893, sua mãe ter casado, em 1895, em segundas núpcias, com o Comandante João Miguel Rosa, Cônsul de Portugal em Durban, Natal, foi ali educado. Ganhou o prêmio Rainha Vitória de estilo inglês na Universidade do Cabo da Boa Esperança em 1903, no exame de admissão, aos 15 anos.Ideologia Política: Considera que o sistema monárquico seria o mais próprio para uma nação organicamente imperial como é Portugal. Considera, ao mesmo tempo, a Monarquia completamente inviável em Portugal. Por isso, a haver um plebiscito entre regimes, votaria, embora com pena, pela República. Conservador do estilo inglês, isto é, liberdade dentro do conservantismo, e absolutamente anti-reacionário.Posição religiosa: Cristão gnóstico e portanto inteiramente oposto a todas as Igrejas organizadas, e sobretudo à Igreja de Roma. Fiel, por motivos que mais adiante estão implícitos, à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição Secreta em Israel (a Santa Kabbalah) e com a essência oculta da Maçonaria.Posição iniciática: Iniciado, por comunicação direta de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da (aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal.Posição patriótica: Partidário de um nacionalismo místico, de onde seja abolida toda a infiltração católico-romana, criando-se, se possível for, um sebastianismo novo, que a substitua espiritualmente, se é que no catolicismo português houve alguma vez espiritualidade.Nacionalista que se guia por este lema: «Tudo pela Humanidade; nada contra a Nação».Posição social: Anticomunista e anti-socialista. O mais deduz-se do que vai dito acima.Resumo de estas últimas considerações: Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, Grão-Mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos - a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania.Lisboa, 30 de Março de 1935"Fonte: Fernando Pessoa no seu tempo, Biblioteca Nacional (Portugal), 1988 (págs. 17-22).[1854]

Manecas Costa, o Paraíso do Gumbé






"My poems are real stories, or observations. They are simple lyrics, with priorityÊon love, children and frequently with a social vision."


A time-served leading multi-instrumentalist from Guinea Bissau

Guitarist extraordinaire and pivotal figure in the PALOP Africa! recordings. In his native Guinea-Bissau he is considered a musical ambassador due to his skills as a musician and as an interpreter of tradition.
Born in Cacheu, Guinea Bissau in 1967. He started his musical career at the ripe old age of nine, forming Africa Libre with his friend Nelson Costa. Within its first two years the band performed in the national festival of contemporary African music. The audience response to this prodigious new talent led to the launching of Manecas Costa¥s musical career.
The seventies saw Manecas playing with all the great bands in Guinea-Bissau, including N'Kassa Cobra, Cobiana Djaz, Mama Djombo and Kapa Negra. His work with Mama Djombo took him to Cuba to play with the legendary Orquestra Aragon.
By the turn of the 80s he had established himself as an excellent bassist recording with artists such as Ze Manel. So it came as a surprise when he started to develop his own singing and composing, winning a UNICEF prize in an international radio contest in 1987. His lyrics deal with the situation for Guinean women and the third world in general.
The nineties were years of travel with tours of Angola, Cape Verde, Italy and Portugal often acting as a cultural ambassador for his native Guinea Bissau. His visit to Portugal became permanent when he emigrated after the tour.
It was in Lisbon that he recorded his first solo album Mundo di Femea - a project featuring some of Palop Africa's leading musicians including Paulino Vieira and Eduardo Paim. It also saw him reuniting with his old friend Nelson Costa.
Mundo di Femea showcased his burgeoning talent as a guitarist, arranger and producer. These skills would enable him to collaborate with many artists such as Paulo Flores, Tabanka Djaz, Bius, Waldemar Bastos and Astra Harris. His latest album Fundo di Mato is a tour de force of acoustic and electric, traditional and modern - wider success is only a short time away.

"My musical ambition is to go beyond frontiers."

2003 foi o ano internacional de Manecas Costa.
Apareceu na capa da “bíblia” Folk Roots (edição de Julho) e esteve com “Paraíso di gumbe” na lista dos 20 melhores discos desse ano. Álbum gravado na Guiné Bissau e editado pela etiqueta do programa “Late Junction” da BBC Radio 3. A produzi-lo esteve a experiente Lucy Duran, autora de um outro programa desse canal, “World Roots”, que contou com a ajuda dos engenheiros de som Jerry Boys.

A viver há treze anos nos arredores de Lisboa, Manecas Costa sente-seamargurado com a falta de interesse dos média e do público em geral que têm ignorado a sua repentina ascensão internacional. Além disso, o disco “Paraíso Di Gumbé” mal se vê nas lojas. E de concertos, nem se fala.

2004 reserva-lhe apenas uma actuação (em solo português) no "Rock In Rio".

Entrevista

Falámos com Manecas Costa num ensaio de preparação para uma digressão em Espanha, o Retorta <http://retorta.typepad.com/> fotografou a bandaguineense.

Apesar da sua pequena extensão de terra, a Guiné Bissau possui uma culturamusical muito diversificada, derivado das várias etnias que lá habitam.
No entanto, há uma identidade nacional comum que trespassa toda a sociedade: o gumbé. O que é para ti o gumbé?

O gumbé é a forma de todas as etnias da Guiné Bissau se encontrarem. Está para a Guiné Bissau como o reggae para a Jamaica. A história diz que os
escravos jamaicanos trouxeram-no para cá.
A Guiné tem praticamente uma mistura de estilos.
Temos na Guiné praticamente tudo o que o Mali divulgou -djembe, kora, toncoro. - porque existe etnia muçulmana na Guiné Bissau(Mandingas, Fula). Isso fez com que a próprio músico da Guiné Bissau sinta uma mistura enorme.
Na altura do projecto África Livre, já tocava músicas que têm a ver com o Senegal, com a Guiné Conacri. Coisas que ouvíamos narádio. Bissau foi muito influenciado pela Guiné Conacri.

Na altura da guerra, o país sempre sofreu com cortes de energia. Apesar dos portugueses terem levado gira-discos, quando faltava luz, se estávamos num baptizado, num casamento ou numa reunião de amigos, tínhamos de inventar algo. Cortávamos um barril de vinho ao meio púnhamos água e a cabaça e continuávamos a festa.
Não precisavas da energia eléctrica, apenas de umas velas para ter o espaço minimamente iluminado. É a luta do gumbé com o gira-discos.

É natural que se tenha tornado moda. A cabaça (tina),acompanhada de palmas, começou na cidade e a estender-se para o meio rural.
Quando um Balanta toca broska sentes o gumbé e a marcação. O gumbé acaboupor ter influência nos estilos mais rápidos.
Foi a consequência de naquela altura não se poder cantar em crioulo. Era proibido. Foi uma luta de querer mostrar aquilo que era nosso. Vem premiar o José Carlos Schwartz, elogiar a coragem de valores como Ernesto Dabo, como Diogo Castro Fernandes. Eles é que incentivaram que era importante cantar numa língua nacional. Havia música mas não havia coragem de se fazer essa música. Tínhamos de ouvir fado, Beatles, etc.


O teu ensino de guitarra foi autodidacta e através de imitação de acordes das músicas que tocavas na rádio. Que músicas eram essas?

Tudo isso que estou a dizer. Fado, Beatles.
Tínhamos uma rádio que emitiapara todo o país. Era uma forma de nos fazer chegar tudo o que era bom oumau. Não havia televisão, não havia nada. Essa rádio era uma forma de nosestarmos em contacto com o mundo.
Mal vínhamos da escola, eu e o meu irmão íamos para ao pé do rádio e ouvíamos de tudo. Discos pedidos, etc.

“Paraiso Di Gumbe”, além de mostrar composições modernas, procura a purezados ritmos de Bissau. É também uma espécie de álbum de recolha. Daí ter sido fundamental gravar na Guiné Bissau?

O país tem uma cultura diversificada, muitas etnias, muita música. Cada etnia tem a sua forma de estar, a sua língua, o seu instrumento. Só temos que aproveitar a riqueza de cada etnia.
Com “Paraíso Di Gumbe”, quis ir buscar várias formas de tocar de cada etnia. Os tambores que utilizei, não se encontram em lado nenhum. São tambores da Guiné: Sabaró, Kutiriba, Bombolom, Droma. Os temas que têm mais a ver com aquele ambiente humano, sem a cadência metrónoma. O importante era deixar a música correr.
Este disco pretende acordar as pessoas. Quero mostrar o país que existe.
Deu-me um orgulho imenso gravar na Guiné-Bissau, por ser a primeira pessoa a trazer um estúdio móvel e a gravar no país. Espero abrir mais portas porque existem mais Manecas na Guiné Bissau.

“Paraíso Di Gumbe” une também diferentes etnias como a Manjak e a Balanta(da qual tu pertences). Que diferenças existem entre ambas?

O Manjak é mais voz. É do norte do país. Gumbe era cantado mais para pessoas que iam à missa e já tinham a noção do que era um gira-discos.
O Manjak identifica-se mais com o tambor de água, com palmas.
O Balanta identifica-se mais com o corno. Celebra-se o carnaval todos os dias. É a nossa forma de estar. Vais a uma festa de broska e vês as pessoas a cantar alegremente, com guitarra na mão. Isto simboliza alegria, fim do colonialismo, do medo.Implica irmandade, amizade, namoro. É muito da forma africana de comunicarque não é conhecida.

A entrevista integral em
http://cronicasdaterra.weblog.com.pt/arquivo/098914.html#more

ZE MANEL


DIALOGUES OF THE HEART

"I see music as a dialogue," says West African music legend Zé Manel. "But music is not in the brain -- music is in the heart."

After years of political and musical exile, "the talisman of Guinean music returns to the origins on a Sea wave"
-Diário de Bissau

"... politically sharp, poetically soft, guitars mourning without pedal effects, ...and Manel's terrific voice."
-The Rough Guide to World Music

In the tumultuous 60's and 70's, as independence from colonial rule was won across Africa, there emerged many expressions of cultural revolution. In Guinea-Bissau, it was music. Deep-rooted rhythms and folklore were re-interpreted in modern arrangements that inspired, mobilized, and unified. The new music featured electric guitars, brass, and lyrics sung in Kriol (a synthesis of several African languages and Portuguese), the language of the people. Zé Manel is a foundational figure of that movement.

Manel was born in Bissau, the capital city, on May 22, 1957. At age six, he formed a band to play music at boy scout camp. Soon the band was playing weddings, baptisms and birthday parties, and its members took their craft so seriously that some were forced to leave. By age seven, young Zé, playing drums and acoustic guitar, had become the main attraction of this band, named Super Mama Djombo after the female spirit of a sacred offering place. When Guinea-Bissau won its independence from Portugal years later, Orchestra Mama Djombo emerged to sing the victory.In the years that followed, Kriol music became the bridge that brought people to their national identity. "Independence felt like people taking over their own house," recalls Manel. "After independence, life was a party, not a struggle." In that euphoric atmosphere, Mama Djombo acquired the status of national group. They often traveled with the first President Luís Cabral, representing the new nation through music. In 1978 they were flown to Cuba to mark the new musical identity "present" at the 11th Youth Music Festival. The group filled a Senegalese stadium, where the crowds literally broke down the doors to hear them play. It is said that whenever a Mama Djombo song came on the radio during lunch, people would get up and dance-and then return to their meal. It seemed an ascendancy that would never end.

The pressures of success-and ideological conflict-brought the end of the band in the mid 80's.
In 1982, Zé released his first solo album Tustumunhos di Aonti (Yesterday's Testimony), which sounded the alarm over the formation of a new, repressive ruling class. The album was a national event (people in Guinea-Bissau today still sing the songs from this soulful, relevant album), but the political environment was heating up and Manel's fans were concerned for his safety. It was becoming increasingly easy to "disappear." He was given a scholarship to study abroad-one of the more pleasant means of removing voices of dissidence.

Manel left Guinea-Bissau for a Portuguese conservatory to study classical music, opera and piano. Upon completion of his studies, Zé played for a year on the Paris scene, then moved to Oakland, California to equip a studio. Maron di mar marks Zé's return to Guinea-Bissau for the first time since Tustumunhos. The album has touched a nerve with people there, and Manel is once again a national hero. The struggle for dignity and new possibilities that drove the revolution continues today, as a society strives to affirm democracy and identity.

Thanks to Zé Manel, Kriol music once again aids that fight, providing a counter-narrative to potential constitutional fictions. .


Biography:

Singer and multi-instrumentalist, Zé Manel is one of the most famous and influential contemporary musician to emerge from the West African country of Guinea-Bissau. By the age of seven, Ze, playing drums and acoustic guitar, had become the main attraction of Super Mama Djombo band.
During the 1970's, this seminal orchestra played a major role in the liberation struggle of this former Portuguese colony. In 1982, Zé released his first solo album Tustumunhos di Aonti, which sounded the alarm over the formation of a new repressive ruling class in Guinea-Bissau. The album was a national event (people in Guinea-Bissau today still sing the songs from this soulful, relevant album), but the political environment was heating up and Manel's fans were concerned for his safety. Manel fled his homeland.
This self-exile took him to Portugal, France and, finally, the United States. His American debut album, Maron di mar (Cobiana Records) released in 2001, was an instant success. It received rave reviews from European and American media and was nominated for best album at the All African Kora Music Awards in South Africa, and best world music album at the Just Plain Folks Music Awards in the USA.

He returned with a new album African Citizen (M10). His message in the title track is more global. Zé calls for African unity, peace, and stability in all continents. He delivers his messages Jji the most beguiling of-tenor voices accompanied by his acoustic guitar and percussion. In this release, Zé's uniquely innovative talent expands the boundaries of both traditional and contemporary Guinea-Bissau dance music, creating a new musical genre that is urban yet profoundly steeped in the root. Sung in many languages (Kriol, Portuguese, English, and French), the lyrics are as declamatory and inflammatory as his rhythms are infectiously danceable.
Ze sings of love for family and friends, respect for women, compassion for children, social justice, and he poignantly describes the ravages of poverty, prostitution, AIDS, and the dictatorships that repress the advancement of people.
Ze said he faced the challenge of blending cultures while preserving his own. "I am respecting our traditional music, but we want to make more progress towards meeting other cultures." The album was recorded in the United States with guest artists from around the world.

Discography:

Tustumunhos di Aonti (1982)
Maron di mar (Cobiana Records, 2001)
African Citizen (M10 Records, 2003)


Maron di mar

Album Description

Contemporary pop from Guinea-Bissau, West Africa.

Guinea-Bissau has been largely overlooked in the newest wave of enthusiasm over music from this part of the world, despite the influence that Bissau-Guinean music has had in the region. Ze Manel is one of the icons of that country's musical history.
He continues a tradition of popular music which values Bissau-Guinean rhythm and folklore while bringing these into musical dialogue with European, Latin and North American sounds.

"Tchiko Te" is a hard driving dance track recorded entirely by Ze, except for the trumpet. He has the trumpeter "talk" through the trumpet in a two-note solo, in imitation of a traditional horn (they won't understand it though, since this trumpet speaks English). Later on the trumpeter takes off on his own jazzy solo, over the top of hard-driving african rhythm in bass, guitar, drums and conga.

"Divine Fire" reminds one of a hard-driving, sexy blues, punctuated with a twang like those traditional storytellers use to keep the rhythm of their narrations.
"Safinte na baloba" is a complex intertwining of acoustic guitar, played on the classical instument with conga in the background.

"Siko na Bankule" is a cindarella story with traditional rhythm and a flying flute solo.
A number of the instruments used on this album haven't been used in Bissau-Guinean music before. These are probably the first songs recorded in English by a Bissau-Guinean artist, in an album which serves up ever new and surprising compositions. Most of the songs are sung in the Portuguese creole of Guinea-Bissau, where the album is already a national event.

Afrika Unite
Maron Di Mar
Siko Na Bankule
Na Kaminho Di Luta

www.cdbaby.com/cd/zemanel,
www.cobianarecords.com
http://www.amazon.com/exec/obidos/tg/detail/-/B00005KAM0/ref=m_art_li_1/104-1519922-7793559?v=glance&s=music

Bidinte: Iran di Fankas




Fernando Jorge Da Silva, Bidinte, es uno de los miembros destacados de esa nueva generación de músicos africanos afincados en Madrid.
Nació en Bolama, antigua capital de Guinea Bissau hasta 1941.
Aunque en su familia no había antecedentes musicales -a excepción de su tío Vicente da Silva, que cantaba en todos los rituales y ceremonias mandyacos- Bidinte tenía decidido dedicarse a la música desde muy pequeño. Desde que un día, a los once años, en el correteo por las calles y casas abandonadas de los portugueses, encontró una mandolina. Con ella comenzó a tocar con los amigos y aprendió de oído la música popular, en concreto el gumbé, un ritmo antiguo que ahora está siendo recuperado por la juventud. Su interés por la música nunca fue aceptado por su familia, llegó hasta el punto de romperle la mandolina diciéndole "En este casa no quiero ver nada que suene". Bidinte, entonces, tuvo que convertirse al catolicismo para poder tocar la guitarra con el cura.
Cuando debía comenzar a estudiar el bachillerato, la familia se trasladó a Bissau, la capital, y se instalaron en Ajuda (antiguo Cuburnel). Curiosamente, guiños del destino, era el barrio de los músicos. Con ellos se reunía habitualmente Bidinte, y con su amigo Mayo Cooperante, componiendo la música para las letras previamente elaboradas por éste. Llegó incluso a grabar tres temas para la radio, pero cuando su padre lo descubrió, le echó de casa.
Lejos de arrendarse ante la oposición familiar, Bidinte continuó en su intento por abrirse camino en el mundo de la música, a la que se consagra desde 1978, fecha en la que participó en el "Festival de jóvenes de La Habana". Diez años más tarde viajó a Lisboa con el grupo Docolma -liderado por Justino Delgado- con quienes grabó tres discos.
En 1992, invitado para dar algunos conciertos, llegó a Madrid, donde comenzó a interesarse por el flamenco desde que alguien le regalara un disco de Camarón.
En la vida y el ambiente de esta ciudad, Bidinte encuentra la inspiración que no encontraba en Portugal, y decide quedarse. En España colabora con otros artistas como percusionista, compositor ( Rasha canta una de sus canciones N´Na dau um beijo en La sal de la vida, ( Nubenegra ), y cantante (Flamenco lo serás tú de Tino di Geraldo, Nuevos Medios ).
Gracias a su enorme talento y creatividad -ensalzada por el propio David Byrne- y a la contribución de artistas como Jorge Pardo, Rasha, Paco Cruz, Camilo Edwards, Pap N´Diaye, Edu Nascimiento y Dino del Monte, nació su primer disco: Kumura, en el que los ritmos tradicionales de Guinea Bissau se funden con influencias lusas, brasileñas, senegalesas, flamencas...
La presentación de Kumura lleva a Bidinte a una gira por Alemania y Holanda en el verano del 99: La Popkomm de Colonia, la Muffathalle de Munich, la sala Moments de Bremen...
En octubre de ese mismo año participa en el disco La Banda Negra, en el que Bidinte se une con otros artistas africanos -todos ellos afincados en Madrid- como Rasha, Wafir, los hermanos As, Mass y Pap y Seydu. Con ellos realiza una gira centroeuropea que culmina con su presentación en el Womex´99, en Berlín.
A raíz de la actuación en el Womex, Bidinte es invitado en febrero de 2000 al encuentro que la Folk Alliance celebra en Cleveland, EEUU, siendo ésta la primera vez que un músico procedente de Europa es llamado a participar en este evento.
Bidinte participó este mismo año en el segundo festival "Sáhara en el Corazón", donde convivió con los refugiados saharauis, y donde quedó profundamente impresionado ante las condiciones en la que lo niños vivían. Aquella experiencia le dio pie para componer Acampamentos, una de las canciones de Iran di fanka´s, y que denuncia la cruel situación que viven los niños de toda África.
En 2001 sale Iran di Fanka´s, su segundo trabajo discográfico, donde se ocupa de su etapa actual en la que al recuerdo permanente de su tierra se suman las circunstancias nuevas que le han tocado en suerte. Iran di fanka´s confirma las expectativas despertadas por Bidinte en Kumura. En Iran di fanka´s, la cabeza y el corazón van de la mano. Bidinte, como fino observador, reacciona a todo lo que sucede a su alrededor.

En Iran di fanka’s, Bidinte convoca a los espíritus buenos, aquellos que continuamente rondan alrededor de su cabeza, para que liberen sus energías positivas e inunden sus canciones de esperanza, de optimismo y de alegría. Parece que el conjuro le ha dado resultado. Ahí están 12 números que pivotan entre dos centros de gravedad, Guinea Bissau y el flamenco.
Producido por Alberto Gambino, el segundo trabajo discográfico ha seguido contando con la colaboración extraordinaria de Paco Cruz. En media docena de temas el guitarrista andaluz ha sabido trasladar las ideas musicales de Bidinte a territorios fronterizos con el flamenco, en los que todo rueda con una dinámica muy poco convencional.
En el resto, África fluye libremente, a borbotones, con suma intensidad. El ritmo a tumba abierta y la melodía desbocada. David Owono (bajo y guitarra), Alex Ikot (batería), ambos de Guinea Ecuatorial, y Mila (coros) de Angola, han hecho su trabajo. Y también Jorge Pardo (saxo y flauta), que no ha querido perderse la ocasión de apoyar, una vez más, a su buen amigo.
Iran di fanka´s confirma las expectativas despertadas por Bidinte en Kumura, un disco grabado en circunstancias inciertas pero que supuso un impecable debut del cantante y compositor de Guinea Bissau.
En Iran di fanka's, la cabeza y el corazón van de la mano. Bidinte, como fino observador, reacciona a todo lo que sucede a su alrededor. En sus canciones, además de aportar todo lo que se trajo de África, ritmos y melodías, nos transmite su análisis conmovedor y conmovido de aquello que le inquieta o le fascina. Emoción en estado puro, que gracias a estos genios beneficiosos, llega envuelta en un mensaje cargado de ilusiones a las que no debemos defraudar.

Bidinte canta en criollo portugués. Los textos de sus canciones -bellos e inteligentes a la vez- están transcritos y traducidos al castellano y al inglés. Es una ocasión idónea para escuchar atentamente lo que nos lleva intentando decir desde hace casi una década en que apareció por estos pagos. Y no sólo porque por que tenga razón, sino porque esa razón es la razón de tantos hombres y mujeres que desde un continente inmenso se acercan a nosotros con las manos abiertas.

The poet of Guinea-Bissau presents a bright new work, the second step on the path opened by Kumura, his splendid debut album. Three strong mainstays: the rhythms of West Africa, gentle melodies with thoughtful lyrics and a relish of flamenco guitar taste; combined by a great creator, Bidinte.
Iran di fanka´s calls upon gentle spirists and vital breath to take care of the African continent, the people and their way of life. The Portuguese creole tongue gives a special sweetness to his songs: hopeful, soft and nostalgic.

Imagino que habrá quien no esté de acuerdo, pero por mí parte he de decir que considero que Bidinte es el más interesante de todos los artistas africanos radicados en España. Su maravillosa voz, sus melodías emocionantes y unos textos increíbles, magníficos, abarrotados de imágenes, en los que brilla la voz de un poeta y, al mismo tiempo, toda la sabiduría africana, constituyen suficientes elementos como para llegar a esa conclusión. Cantante y multiinstrumentista, Bidinte ya mostró parte de sus poderes en su primer disco. Pero ahora los confirma definitivamente con este segundo trabajo, que fue anticipado ya en el álbum colectivo de La Banda Negra. Inspirado por el "gumbe" (más que un estilo, una conjunción de estilos) de su tierra, Guinea Bissau,Bidinte ha dado rienda suelta en esta ocasión a su fértil inspiración, y en lugar de encauzarla y encorsetarla, ha optado por dejarla libre y fluida como el agua.
Con la respetuosa producción de Alberto Gambino, ha facturado un disco lírico, intimista y hermoso, que se inicia con Nha cumbossa, una historia de celos con texto casi surrealista, que comienza en clave percusiva para terminar a caballo entre el safari mandinga y la "juju music" más hipnótica. Mandjuanda di sambassuga parece albergar un cierto resentimiento contra una sociedad (la nuestra), que no acepta al inmigrante. Pero lo dice con palabras poética y una deliciosa cadencia. En Caminho di n´tchanha se acerca al sonido "afrobeat" mientras habla de la dureza de la vida. Acordeón, saxo, y guitarra flamenca acompañan la bonita historia de amor y partida de N´na dau um beijo. La nostalgia aparece en la maravillosa Pena di nha terra. Y el disfrute sonoro y la pena en el alma continúa con esa melancólica balada africana que es Boneca di oss, con el drama de los refugiados que relata en Acampamentos a ritmo de soukous o con el dramatismo de Mame sagrado. La poesía de Cantiga paÁlana, la tradición de Considjo di garandis o el "afrojazz" de N´djuramenta bôs ofrecen nuevos argumentos a un disco excelente, que se completa con la escalofriante Samba da emigraçao, sin duda la mejor canción aparecida en España en 2001. Pura emoción.
Luis LlesDel Sur, noviembre-diciembre 2001.

La herencia lusa con un pelín de fado y morna se materializa en la calidez de la voz africana y la tierna poesía de Bidinte (Guinea Bissau). Pero el sonido de este disco no sería entendible sin los años que este eximio guitarrista, percusionista, compositor y cantante lleva en Madrid. Muy interesantes los cruces con las guitarras flamencas.
Fernando IñiguezEfe Eme, enero 2002

The arrival of Guinea-Bissau musician Bidinte Santa´s CD Iran di Fanka´s has been one of the most pleasurable musical discoveries of recent years. Every one of the 12 songs seems to include a surprise musical variation that is just delightful. Obvious West African influences are included, but some of the combinations of melody, rhythm and intrumentation are breathtakingly innovative.A simple Nigerian sounding Fuji of Juju-style percussive motif opens the disc with Bidinte´s sweet and controlled voice, and Manding guitars weaving around the rhythm. Portuguese lyrics and acoustic guitars pervade much of the material giving a strong Brazilean feel, but there are other musical twists. Track three, "Caminho di N´tchanha", sounds like a Manu Dibango ´70s makossa piece, while track seven, "Acampamentos", has some fine Congolese sounding guitar underpinned by Senegalese percussion. Having been recorded in Spain there are also strong flamenco elements and the supporting musicians deserve high praise for their exemplary contributions.I don´t wish to give the impression that this is one of those "throw everything at the wall and see what sticks" recordings. Despite the diversity of styles, Iran di Fanka´s flows well and Bidinte has musical talent -vocally, instrumentally and compositionally - that deserves to be widely exposed.
Martin SinnockSonglines Winter 2001

mais informações cf.http://www.buscamusica.org/bidinte/