Os barulhos das máquinas
ressoam nos meus ouvidos
abro os livros -
museus do caminho-de-ferro
martelam toda a vasta artéria -
páginas ainda não desfolhadas
predicados do movimento
retroescavadoras nas pedreiras
a cidade avança a pular
numa dança empolgante e pululante
e arrasta consigo
numa revolta do íman
as areias das aldeias
alavancas no leme motor do provir
hélice dos símbolos rodopia o moinho no porto
e as sereias se enlouquecem
loucamente pela atracção
das sardinhas com perfume
do dia laborioso
levantam-se diques -
muralha do tempo
crocodilos constróem lares nas dunas
mar a protestar a hegemonia
lança-se praias e as brisas abafam
o litoral em flancos laterais
com palavras lavradas em tom alado
duma harmoniosa plasticidade
do céu azul pincelado
com vapor fumegante
da réplica das eras
coração dessecado no panteão da liberdade
armas em palmas
Estrela negra vigilante
cores do brasão grua a descarregar charruas
mantas incolores estendidas no sol-pôr
refinaria das consciências
empilhadoras nas gráficas
imprime-se as memórias recicladas
e a aurora convalescente
da cegueira nacional
festeja com o sicó
o corte abissal do tempo
desgasto adormecido no antro ancestral
vigiado pela geração epiléptica
(14.06.2004)
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