quarta-feira, agosto 01, 2018

MBLUDJU



Vinti kilu di versus
k n karga tip na vow di tap
di lisboa pa bissau 
na mbludju tchomadu strofi


Mpasa frontera n finta alfandika

nkumenda tchiga distinu pubis
alan sol mansi


Bissau korda moku
na tchebeta roku

di un tuku di ronku

Poeta ku kamba osianu
bin ku urdumunhu di paranu


Paransa Guine di otranu

Kintal di beltranu 
gos i ka ponta di mangaflanu


Figakanhota kunfentu di 98
Polon tisin lan ku mankurbat di kessenkessen
liti di poteris
mparia di lunghada odjadu didia uan



Ndongle Akudeta

6/01/2018


Menina do fim do Mundo



Menina do Fim do Mundo
de olhos castanhos e profundos
gatos no telhado embriagados
celebram em serenatas a tua beleza

Rouxinóis no pinheiro de madrugada

cantam a nobreza da tua feição
a natureza te concebeu imitando
o carvão da lenha queimada em Geta

A escrita do teu corpo - meta da ficção

andar senhorial seleccionando a terra
a sinfonia do teu calcanhar - 
a magia da tracção a romper
o ventre ferraz do solo

Campas de ervas mortas

as minhocas veneram a tua moleza
tchintchor na tribuna: - seca era!

Menina do fim do mundo de olhos

castanhos cântaros de água doce
rendido em gleba brota em mim
rosas vermelhas e em fevereiro
faço anos e acordo no teu jardim
na esquina da rua catorze creio

para que tu me acolhas no teu bouquet

para que ao entardecer o aroma que murcha
entre as corolas de malmequer e jasmim
espraie no teu sonho o limbo
do meu suspirar vetusto
no São-Valentim ao longo da soirée

Adão Quadé 27.04.05

Solstício

*



Nasce a bruma da manhã
ainda estou a desdenhar
o mundo pedalando
num sonho embrenhado
nessas profundezas vãs
esfregando as folhas verdes
na busca das velhas cores

A luz do sol arranhando

no outro lado da janela
a escuridão lenta é mais viva
no desvanecido sonho ornado
de papoilas vermelhas

Sinto um arrepio tremendo

rebolando em queda estática
lá bem longe do começo
vindo do terminal do sufoco

E o grito do atrito não poupa

a claustral vaidade dos ouvidos
dobram os sinos da capela
apelando ao chilrear das aves
levanta o fogo ao pé de mim
enquanto gozava a lua de mel
num convento velado pelas chamas

Carregando a cruz da pura inocência

prostrei-me envolto na maca do hospital
soros e oxigénio desvirtuam a impaciência
curiosamente gemi: onde estarás
ó loucura da noite fatal ?!

Adão Quadé
Agosto.03
04:30

Poetare (Manifesto I)



Municiar o alto da alma
Com bombas crepitantes de ar
Gritar na surdez com tanta calma
Na tentativa de um homérico assalto
A muralha das palavras

Camuflar no fio de cabelo

O contingente do verbo
(Léguas ainda há de lavrar !)
Com engenhos luminosos do acervo
Tonificado com sons do silêncio

Pois a frente do combate

É um emaranhando de escuridão
Bolsas de rimas a desmantelar
E transportar às costas
Os versos com pernas feridas

Marcha triunfal com polegar

Bailamos enquanto dissolve a chama
Comprimida em luar efervescente
Chove canção alada estilhaçada
Desabrocha a flor no peito

Untamos com o pó das sílabas

Do vento a assobiar de lente
E aquecemos o sangue exangue
Com o néctar da madrugada em lavas

Embriagada com suor vacilante

da noite desnorteada vigilante
Em honra das vozes suicidas

18-03-2003 2:17:15
Adão Quadé

Sextas Poéticas



Sextas de tabuada
de aritiméticas e de matemáticas
Sextas do ditado da redação da gramática
dos verbos  da história e da geografía
Sextas são sextas!

Sextas de festas
de fim-de-semanas de bebedeiras
Sextas de longa sestas, de namoradas, de amigos e companheiros
Sextas de homens sem mulheres
Sextas de mulheres sem homens
Sextas livres e de alegria - happy day  sexta-feira!
Sextas de pouco trabalho (até ao meio dia...)
sextas de folga,
Sextas de piquiniques, de mandjuandades, de manxidas,
Sextas de conta-mentira...

Sexta é sexta
Viva a festa!

Festejamos a sexta com poesia
Sexta de palavras em festa
Sexta de palavras mansas dóceis e melancólicas
Sexta de palavras tortas e confusas e ardentes
suspensas em versos desgrenhados com penteados difusos
ostentando a percepção da luz opaca do instante

Sexta de brincadeira com coisa séria
Sexta do distanciar do distrair-se e do deleitar
Sexta da pertença e da afirmação
Sexta do labor da colheita e de djambadon
Sexta de fundinho e dala
De  balur de homindadi bistido ku lope di djidiundade

Sexta é sempre sexta para quem não é vespa
Hasta la proxima siesta!

Adão Quadé
17. 12. 2016

sexta-feira, julho 27, 2018

Trampolin

















N sinti bu tcheru
na bentia
na fuska-fuska

sol reman
bofotada tok
n tchantchan'i

n buska sombra
pa diskansa
n nkunha kabesa

na turbuseru
di bu ombra

sur di kangaluta
bagana forsa

pa yangasa bu bis
bu garganti
i trampolin

djiu

ki kudadi ba
pa kamba
gos ka pirsis jangada


Ndongle Akudeta
25.06.0312:05

quinta-feira, julho 05, 2018

Ode à Engomadeira



Engomadeira
exercitando
o contorno da nádega

Na antecipação
da execução
do corpo da música

Emaranhada
em lianas de ritmo
da dança
inconcebível


na harmonia da luz interior
um retalho de lua
na mesa da madrugada efervescente

a lisura da alma
ondulação tranquila da mão macia
no leito da ignição motora
do orvalho
incandescente


Adão Quadé
*****




uma música indecifrável
no alto de um bairro intransponível

já fui rei numa noite infindável
coroada de loucuras e fantasias

fui sim mais que real surreal
transitando na órbita
da melodia
melancólica do fumo
etílico

ressuscitei neófito
com bengala mágica
da auto-flagelação do espírito frontal

preciso silêncio na hora fatal.
música...aurora...carnaval!


04.12.09
A.Quadé