quarta-feira, agosto 01, 2018

Solstício

*



Nasce a bruma da manhã
ainda estou a desdenhar
o mundo pedalando
num sonho embrenhado
nessas profundezas vãs
esfregando as folhas verdes
na busca das velhas cores

A luz do sol arranhando

no outro lado da janela
a escuridão lenta é mais viva
no desvanecido sonho ornado
de papoilas vermelhas

Sinto um arrepio tremendo

rebolando em queda estática
lá bem longe do começo
vindo do terminal do sufoco

E o grito do atrito não poupa

a claustral vaidade dos ouvidos
dobram os sinos da capela
apelando ao chilrear das aves
levanta o fogo ao pé de mim
enquanto gozava a lua de mel
num convento velado pelas chamas

Carregando a cruz da pura inocência

prostrei-me envolto na maca do hospital
soros e oxigénio desvirtuam a impaciência
curiosamente gemi: onde estarás
ó loucura da noite fatal ?!

Adão Quadé
Agosto.03
04:30

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