Maskradu
suma katcher
ku ntola na lama
di Pindjiguiti
n bisti kuru
di lagartu bedju
kaskabelu na pitu
korson na manda lata
kuma « ntrudu
n kunsi bu dunu »
n modja tchopot
suma kufu di sal
n medi sai fora
pa borgonha
ka tisinan dinti
n miti bulanha
piskabalu puntan i ke
- Kon ku nghunhi seu...
Karnaval rapasa
ku mon-di-timba
karna ndjuti val
kuma dapi di modja garganti...
ku fadi pa darma Nimba
n magina bu tadju
na latchi kurpu
na badju di Kumpo
suma Ndjimpol
n lembra Kamatchol
ku ta gasidjan po di kurpu
na badju di nalu
ma aos Iangiang
ku ten banu
padiru di kuarti
ku na midi kaparu
ku nha testa di bodi
n tchora banda
ku nha dona tisin
n tchoma Koni i lundju!
Carnaval em Bissau
2005-02-07
Adão Quadé
N Sta li n sta la
n sta li n sta la
sintidu nkotchadu
turbada di friu
kondjelan pitu
na tirina di sol
pitu forti badau
suma limon di tor
bokera nkurbadu
na pidi kopu di kana
kuma bedju di otranu
te tchuba di paranu
djambatutu kanta
kontrada di no kerensa
tok' i roku i kai moku
ma distinu nteres tatch
ndjita bedju bu bin nenin patch
Adão Quadé
00:05 17.01.05
No Museu do Coração
Estou encharcado aqui neste pântano
condenado ao afogamento pelo destino fatal
coração dilacerado em corte visceral
sonho distante corpo separado da alma
não por vanglória razão desfraldada
sorrio e no ar ofusca-se o ébano
e canto em voz alta a testemunhar
o silêncio do rouxinol no pinheiro
cheiro à náusea de tanto palpitar
vou beber a água na fonte dos amores
em cada momento que olhando
ao espelho te perco de vista
e o peito recarrega-se da mancha
da tua flecha espetada certeira
à custa do fardo que o fado dita
no cerne da arvore da paixão
no museu do coração mumificado
a minha alma jaz em dinossauro
espero uma justa encarnação
esfinge com tronco de centauro
Adão Quadé
17.Janeiro.2005
O TEU OLHAR
Leio constantemente sem palavras
Inspiro-me no leito do teu olhar nebuloso
Distanciando-me no tempo sem querer vejo
Ilhas perdidas no oceano teu pentear em furacão
Antes do despertar a tua voz anima o espectáculo
no teatro idílico da minha vã existência
sereia em digressão meu coração coliseu
lotação esgotada eu sozinho na plateia
despedaço-me em mil vozes para te louvar -
«rio do tempo amorfo desaguando
sob a ponte maciça dos meus pés flutuante
deuses afogados no labirinto da eternidade
a morte crepúsculo da noite fim da vida
não podemos precipitar o percurso do mar»
alquebrado sou engolido pela chama chuviscante
da loucura indomável do teu silêncio no interlúdio
e espero ansioso pelo teu beijo assaz cor de djagatu
sarando a fenda no meu peito acutilado em caudal
e acordo repetindo com o mesmo tom liquefeito
do luzir do teu olhar apunhalante
o gesto draconiano da tua voz vulcânica
enlameando magmática o meu sonho etéreo
Adão Quadé
2005
Nha fala
À Lídia
à beira do rio
*
Nha fala i un dus pasu
Atantiku na diapason
Kuimbra neni bu tuada
Na un kurpu kebra-kebradu
Na un maranha di iran segu
Bu sirbi tas na barkafon
Di nha poetandadi
Bustu di kabral na iari-iari
Kuma tchon ka rakunsil
Suma kobra ku na ramenda
Djunki turpesa di mar
Bu latchi bu tadju di palmera padida
Malila bagana forsa
Pubis taranta didia uan bu serpentasku
Teju ku na lagua
Beju di maron di Djiba
Kur di bu djindjirba pe di ankol
Katabentu di ermankono
Na prantcha di sakor
Nha sunhu i kil un son son
Ma falan kuma
Liti ku basa ka ta djunki
Kabas di djamakosa
N sikidu na Pindjiguiti
N na panga foli
Pa maskotia bu suris
Na kalkanhada di pilikanu
Pa bua sai nkanta mundu
Ku bu garganti fonghol
Na palku nha sunhu
Alma-beafada
Reinu di ndoli
Ndongle Akudeta
23.03.05 - 18:00
Nas Profundezas da alma
Nas profundezas da alma
Um mar morto
Na mortalha de um pensar absorto
Repousa stressante um terramoto
No lençol prateado do calor e sal
Na massa cinzenta da lama
Na ternura de um corpo anzol
Currais e mangroves
Opõem-se em entraves
Não há travão no porão
Sonhar catapultado em trovão
Estrelas-do-mar fazem de âncoras
Para estancar o fluxo repudiante
Das ondas camuflando em cânforas
O sorriso das brisas escaldantes
No conluio da noite de lua cheia
Adão Quadé
02.06.05
Miragens
Escuto o gemido manso
Das águas a cair da encosta
Uma mulher vestida a rigor
Festeja o começo de um dia melhor
O frio acossando as pálpebras
Estancado no átrio da madrugada
A tua sombra jactante
Vulcaniza-se no repuxo
Meu pensar lânguido
Destorcido no patamar do apartar
Sol a esfregar o calcanhar
Na nuca da parede colorida -
Taco galopante de um tiquetaquear
Domando o tom da ânsia brotante
Ofusco-me na galeria do pasmar
E esculpo no azulejo o arco da tua fala
Onça abstida bêbeda do suor da ribeira
O teu reflexo ondulante no vespertino
Ninho de falcão na torre do castelo
Aconchego com o hino à ninfa cantadeira
Pedra de raio refrescante a almofadar
O pó do calor derretendo nos bastidores
04.04.05
Saldanha Residence
Menina do fim do Mundo
A menina do Fim do Mundo
De olhos castanhos e profundos
Gatos nas câncaras embriagados
Celebram em serenatas a tua beleza
Rouxinóis no pinheiro de madrugada
Cantam a nobreza da tua feição
A natureza te concebeu imitando
O carvão da lenha queimada em Geta
A escrita do teu corpo - meta da ficção
Andar senhorial seleccionando a terra
A sinfonia do teu calcanhar - a magia da tracção
A romper o ventre feraz do solo
- campas de ervas mortas
As minhocas veneram a tua moleza
Tchintchor na tribuna - seca era!
Menina do fim do mundo de olhos
Castanhos cântaros de água doce
Rendido em gleba brota em mim
Rosas vermelhas e em Fevereiro
Faço anos e acordo no teu jardim
Na esquina da rua catorze creio
Para que tu me acolhas no teu bouquet
Para que ao entardecer o aroma que murcha
Entre as corolas de malmequeres e jasmins
Espraie no teu sonho o limbo
Do meu suspirar vetusto
No SãoValentim ao longo da soirée
Adão Quadé
27.04.05
No Portal da Garganta
No portal da garganta
uma pedra pesada trancada
imito o canto de colibri
asas dos braços ansiando o deslocar
no convés de um som livre flutuante
flocos de chamas douradas em vómitos
ladeiam o fulgor indómito da madrugada
nas ramagens de um cajueiro
grasna impetuoso o suor do silêncio
destilado em água benta
lenços de orvalhadas estilhaçam
o espelho da cidade gravitante
o rosto grávido da noite hipertensa
esplendor mágico da tocha embriagada
na emancipação do teu corpo
descendente das veias arqueológicas
flexões do caranguejo no lamaçal
profanando a sepultura do jagudi
minha garganta ceptro colossal
do rei Quéops mumificado
no pódio da pirâmide do Egipto
02.06.05
Elegia a Papa Joao Paulo II
Na sombra do chamamento
voa íbis transversal
rouxinol
crucificado em lamentos
Cristo-Rei
imperador das Amazonas
África feita
colónia das procissões
Wojtila cultiva a terra sob o sol
e reza a profecia:
sede peregrino
ó Providência divina
a nós vinde
para que na terra....
pauis, savanas e searas
refresquem as nossas palpitações
enquanto
juncos trigos e gazelas
afinam as nossas
mundanas vocações...
Adão Quadé
2015
Sinceridade
a sinceridade máxima só morre
quando perdemos
a noção da integridade
espiritual
deito-me
sempre
em horizontal
e acordo em transversal
com tronco
pendurado na lua
com a conivência de um fio de cabelo
içado pela grua
Em cada noite perco
um centímetro no espaço
sonho a voar
com as asas do calcanhar
Adão Quadé
01.09.05
Sulco da Paixão
O sulco
da paixão
elevado ao púlpito
do coração
desconcerta-se
apito da razão
arbitrária
torneio
da loucura
almas em procura
põe-se
a preço de vaca
sono
apunhalado
com uma faca
Adão Quadé
01.09.05
Tiraste do meu bolso
a sigilosa fórmula da paixão
peço-te amor o reembolso
com um ramo de rosa na caixão
ia compor-te mais esbelta
refinada com a cinza da brasa
já que te sentes na ribalta
o meu mistério não graça
exageras-te na química da beleza
tal o clone da musa idealizada
sinto o meu desejo quase realizado
e coroo-te no altar - Sua Alteza
e este meu fardo tara pesada
enfeitiça-se pela leveza
ah! Que coisa tão engraçada
ter sido roubado
por uma princesa
Adão Quadé
02.05
Tasca do Careca
domingo, abril 23, 2023
Karnaval e outros poemas de Adão Quadé
Publicada por Ndongle Akudeta à(s) domingo, abril 23, 2023
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