sexta-feira, julho 21, 2006

Obulum

OBulum um espaço de reflexão sobre a Guiné-Bissau de Nelson Constantino Lopes

Rio Geba

Um blog para consultar, indispensável para quem, como Waldir Araújo, vai ao Rio Geba em busca da inspiração.

Tempo de transformação


Sorrisos sem brilhos
Mãos esqueléticas trabalhando
sem cessar
cotins e sarjas
esburacadas sem cor
pelo desgaste
sem solvência para repor

Pés rachados e endurecidos
calos nas mãos
calos nas patas
Até espinhas e sol se resignam
Ossos forçando peles
aqui e lá também
e as costelas
quais persianas
sob cortina de carne

É a vida
É esta vida do começo
que nossos corpos retratam
Povo meu


Em tempo de transformações
o tempo esculpe em nós
o seu curso
E na terra erguida
Nas plantas e alimárias
Cicatrizes de meandros
desta vida exígua
Lamentos não curam
Labutar enquanto vida somos

Pagamos hoje
o custo dos tempos vindouros
Ó povo meu
Suor e sangue fazem pátrias
Abnegados e convictos
antecipemos o futuro
para que o presente se firme em paz

Félix Siga
Pecixe, Maio 1983

Momentos primeiros da Construção


Nestes momentos primeiros da construção
após o desbravar das matas dos horizontes
não perguntes quem são os poetas
vem comigo e repara bem

Nestes tempos pioneiros da produção
os recém-chegados e os veteranos sejam muitos
a fazer com que radis naveguem
fecundos a terra
e que as ferramentas torneiem e afinem
a engrenagem do processo

Sob estes ventos soalheiros da revolução
que as quedas não sejam definitivas
e que os desfalecimentos sejam vencidos
pela certeza da vitória que amanhecerá
nas frescuras tropicais da madrugada



José Carlos Schwartz
In Momentos primeiros da Construção

Meditação do Tchintchor


Deixa-me esculpir
o teu pensamento
nas barbatanas das brisas

tatuar no peito da lua crisa
com o colar do teu sentimento
o balbúcio das brumas de antemanhãs
colosso d’alegria perpetuar
na aldeia de esperança espreitante

O eco do teu sorriso carregando
o obolum de um palpitar crepitante
sob o qual meu coração se afogando
desvairadamente

Sede bem-aventurados
ó cortesia nupcial
de radis com chuva
torrencial

apadrinhados pela noite em cristal
na reconciliação
da terra ansiosa com o céu índigo

na meditação crucial
do tchintchor


Adão Quadé
Bissau,31.07.99

quinta-feira, julho 13, 2006

Djumna-djumna


kadakin
ku si dia di muri
mortu ka ten fin

sin djanti sin kuri
te na pikil
sin dapil

pera inda n'ri

ah ah ah...
sintadu di nkun'a
obulum ka pasanser
ma kadokil ku si dia
i ka ten pupa kikia

B.leza 09.12.01
04:14
Ndongle Akudeta

terça-feira, julho 04, 2006

África Festival 2006 - Lisboa







Um continente de Música em Lisboa
Lisboa, Jardim da Torre de Belém, de 6 a 9 de Julho 2006, 22:00h



Depois do sucesso da primeira edição, o África Festival volta a contagiar a cidade com o som quente dos ritmos africanos. Este ano são quatro dias de concertos

gratuitos, com alguns dos principais representantes das músicas de África. Com duas actuações por noite, o festival vai ter ainda uma “Tenda – Ponto de Encontro”, com workshops, ateliers, actuações e uma exposição

. Jah Fakoly
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Os espectáculos da primeira noite do festival – dia 6 de Julho – são de Bonga e Cheikh Lô, dois músicos com formações distintas. O artista angolano radicado em Portugal é o primeiro a subir ao palco, num concerto que recupera os primórdios da sua carreira, evocando os álbuns “Angola 72” e “Angola 74”, que fizeram de Bonga um dos percursores da World Music. Às 23h30, é a vez de Cheikh Lô subir ao palco. Nascido no Senegal, é dono de uma sonoridade que deixa perceber o seu espírito livre e aventureiro, reflexo das muitas viagens que o levaram aos mais distantes pontos do globo. Com três álbuns editados – “Ne La Thiass” (1996), “Bambay Gueej” (1999) e “Lamp Fall” (2005) - este é considerado um dos nomes mais promissores da música africana contemporânea.
No dia 7, Tcheka “transporta-nos” até Cabo-Verde. Cantor e compositor, o músico oriundo da ilha de Santiago, transpõe para a guitarra batidas que, habitualmente, são tocadas com instrumentos de percussão, fazendo parte de um movimento que deu novo fôlego à música caboverdiana.
Segue-se Oumou Sangaré, a grande diva do Mali e de África, e uma das vozes mais espantosas do mundo.
Oumou comenta sobre todos os aspectos da vida no seu país, sobretudo os problemas que as mulheres enfrentam diariamente por causa da poligamia, mas também da sensualidade do amor inexperiente, da dor do exílio, da necessidade de cultivar a terra, e da fragilidade da vida humana. Distinguida com um prémio musical pela UNESCO, Oumou Sangaré tem trabalhado nesse sentido, usando a música como forma de fazer valer os direitos sociais das mulheres no Mali e no mundo.
A terceira noite do festival, a 8 de Julho, é de Djumbai Jazz e Tiken Jah Fakoly, seguidos de after-hours.
Djumbai Jazz, criado em 1990, é composto, entre outros, pelos músicos guineenses Maio Coopé (voz), Sadjo (guitarra acústica e ritmo), Galissa (kora), e Cabum (percussão), radicados em Portugal. Liderados pelo vocalista Maio Coopé, procuram recuperar os ritmos tradicionais da sua terra natal, a Guiné-bissau, como o N’gumbé, Djambadon e Brocxa, esperando-se uma actuação vibrante, que promete contagiar o público presente.
Segue-se Tiken Jah Fakoly, figura de proa do reggae do oeste africano. Oriundo da Costa do Marfim, é conhecido pelo seu activismo político e ritmos contagiantes, que não vão deixar ninguém indiferente.
Jah Fakoly
Sábado irá prolongar-se com a “noite afro-blue”, um after-hours animado pelos DJs Johnny, Lucky e LadyGBrown, dj’s residentes do Bicaense.
O encerramento deste evento, a 9 de Julho, cabe à zimbabueana Stella Chiweshe e aos moçambicanos Eyuphuro.
Com o cognome “Ambuya Chinyakare”, que significa “avó da música tradicional”, Stella Chiweshe é a única mulher do seu país a liderar uma banda e a interpretar mbira, instrumento tradicional do povo Shona, associado à magia e proíbido no Zimbabwe antes da independência. O seu trabalho a solo qualifica-a como uma das artistas mais originais do panorama musical africano, através de uma fusão entre música popular e guitarras contemporâneas.
Zena Bacar e Issufo Manuel são as vozes que compõe os Eyuphuro e são os últimos a pisar o palco da Torre de Belém, depois de uma extensa tournée que comemorou os seus 25 anos de carreira. Acompanhados pelo cantor Ali Faque, que integrou recentemente a formação, trazem na bagagem os ritmos dançáveis do Afropop, género do qual foram percursores no seu país.



Para além dos concertos a decorrer no palco principal, o festival conta ainda com uma Tenda – Ponto de Encontro, no relvado da Torre de Belém, onde vão decorrer diversos workshops/ ateliers, actuações de música e uma exposição.

Maio Coopé
Programa
Dia 6
(Angola) Bonga
(Senegal) Cheikh
Dia 7
(Cabo-Verde) Tcheka
(Mali) Oumou Sangaré
Dia 8
(Portugal / Guiné Bissau) Djumbai Jazz
(Costa do Marfim) Tiken Jah Fakoly
Dia 9
(Zimbabwe) Stella Chiweshe
(Moçambique) Eyuphuro